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Um vírus não aniquilará nossa esperança

mai 4, 2020

O que será do Rotary depois da pandemia de Covid-19? Não sei. Mas, certamente, seremos uma instituição diferente daquela de março de 2020 (leia o artigo do autor a partir da página 46). A projeção do passado para o futuro é incerta. O Rotary cresceu logo após a Primeira Guerra Mundial, seguida pela gripe espanhola entre 1918 e 1920. Nossa organização catalisou o sentimento de solidariedade após o conflito e a pandemia? Talvez. O Rotary sobreviveu à Segunda Guerra Mundial, legando ao mundo a Unesco, iniciativa de um grupo de rotarianos de Londres surgida num congresso sobre educação, em 1942, e a Organização das Nações Unidas, com uma delegação de 89 rotarianos presentes à assinatura da carta constitutiva, em São Francisco, 75 anos atrás.

Em relação ao desafio da Covid-19, que trabalhos estão fazendo os clubes, nossas células? Nos próximos meses, um relatório mais rico certamente advirá dos exemplos, mas já podemos elencar alguns pontos.

Numa velocidade sem precedentes, a Fundação Rotária autorizou 3 milhões de dólares para os distritos, a título de auxílio a desastres, na base do “primeiro chega, primeiro é servido”. Nas zonas 23 e 24, abrangendo Brasil e outros países da América do Sul, os governadores de distrito foram eficientes, aprovando 21 dos 120 projetos de todo o planeta, totalizando 525 mil dólares até o dia 11 de abril. Ou seja: graças à agilidade dos nossos dirigentes distritais, 6% dos rotarianos do mundo angariaram 17,5% da verba desse fundo. A Fundação também autorizou o uso do dinheiro parado nos Fundos Distritais de Utilização Controlada, eliminando a necessidade de aporte do parceiro internacional, cujo nome deve constar somente para aproveitar o racional do software de Subsídios Globais. Sem aportar qualquer valor.

Para os próximos 60 dias, recomendo aos governadores de distrito e presidentes de clube a estratégia dos três Cs: custos, comunicação e capacitação.

Os custos: reduzi-los rapidamente na proporção em que inexistirão as despesas de refeições (nossa maior rubrica de gastos), conferências e viagens. Os rotarianos sofreremos as consequências inevitáveis da crise econômica resultante do distanciamento social e da paralisação empresarial. É no mínimo sensatez de liderança reconhecer o cenário e facilitar a permanência do rotariano em nosso convívio.

A comunicação: intensificá-la no ambiente virtual. Jamais substituiremos a qualidade e a emoção do encontro presencial, do aperto de mão, do abraço. Mas a ameaça do novo coronavírus amplia, por outro lado, presença de companheiros nas reuniões virtuais. Participo diariamente de três a cinco encontros virtuais, conectando-me com companheiros que dificilmente teria a chance de conhecer. São comuns reuniões de 150 companheiros ou mais, algo raro no mundo presencial. Respeita-se o tempo, permite-se a participação por perguntas, limita-se o discurso verborrágico. A objetividade domina a discussão virtual.

A capacitação: ela é inexorável num mundo mutante. Já o era antes da pandemia, que agora acelera o passo de câmbio. Rotarianos resistentes a entrar no mundo virtual o fazem neste momento por necessidade, que é a mãe da invenção. E, surpreendentemente, alguns se maravilham diante da ferramenta, mais amigável do que supunham. Faces desaparecidas das reuniões presenciais, por logística ou tempo, agora se apresentam, manejando as ferramentas digitais, externando suas ideias, propondo caminhos e programas. É a oportunidade de capacitar essa força de trabalho voluntário para o mundo digital, que certamente lhes abrirá portas a mais conhecimento.

Um mundo novo. Um mundo diferente. Que testará nossa capacidade de adaptação, um dos objetivos estratégicos do Rotary. Mas estou convicto de que sairemos mais fortes dessa crise. Como no século passado, não será um vírus que aniquilará nossa esperança no homem. Continuaremos a conectar o mundo e abrir oportunidades.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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