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Setenta e dois meses depois…

jun 1, 2021

Este é o último artigo que escrevo na trajetória de 72 meses como líder sênior do Rotary, desde a assunção ao cargo de curador da Fundação Rotária, em julho de 2015. Em todas as funções designadas pelo Rotary, nenhuma delas fruto de solicitação, ensinei às vezes, aprendi sempre.

Como presidente do Rotary Club de Santo André, aprendi a falar ao microfone, um dos terrores do ser humano. Como governador, aprendi a empatia, a capacidade de colocar-me no lugar dos menos afortunados. Como líder de capacitação, aprendi que escutar é um exercício mais difícil do que falar. Como curador, ensinaram-me a enxergar o Rotary como uma entidade global, que congrega raças, culturas e visões diferentes. Agora como diretor, fui orientado a defender as perspectivas da América do Sul, mas inseridas num contexto maior, mundial, no qual, em prol do bem da instituição, nem sempre nossos interesses regionais prevalecem.

Compartilho com vocês algumas lições dos últimos 72 meses. Foi um período rico, desgastante, desafiador, gratificante, mas, sobretudo, uma experiência inesquecível para qualquer ser humano, rotariano ou não. Vejamos as lições:

1 – O Rotary tem que se modernizar, flexibilizar-se, acompanhar os novos tempos. Paul Harris disse que temos que ser evolutivos, às vezes, revolucionários. A velocidade de mudança, principalmente em função da pandemia, foi exponencializada. Evidenciaram-se algumas deficiências do nosso processo de gestão, tradicional e custoso. Nossas conexões são pessoais, porém independem de manuais de procedimentos rígidos, punitivos, limitadores. Mais contribui quem participa de um evento de arrecadação, de uma campanha de vacinação, do que aquele que apenas mantém uma frequência irrepreensível sem qualquer engajamento. A métrica mudou, e o Rotary tem que mudar para manter-se relevante numa sociedade em que a mudança acelerada tornou-se a norma.

2 – Nosso maior ativo são os associados. O maior desafio para o Rotary não será a erradicação da pólio, nem o combate à Covid-19, nem o estabelecimento de parcerias globais com entidades congêneres. Desde 1995 estagnado, nosso repto foi, é e continuará sendo a ampliação da base de rotarianos e rotarianas. O paradoxo é que somos altamente considerados pelos atores, os stakeholders, como falam os moderninhos. Governos, entidades não governamentais, empresas e a sociedade percebem o Rotary como um patrimônio da comunidade. Temos conexões com a juventude e apelamos aos grupos minoritários da sociedade. Nossa instituição tem uma credibilidade gigantesca, mas ainda assim não descolamos dos 52 mil rotarianos no Brasil e 20 mil na América do Sul espanhola. Como voluntários, temos que identificar diuturnamente novos convertidos à causa do Rotary.

3 – O Rotary caminha para ser mais inclusivo e diverso. Para espelhar fidedignamente a sociedade em que vive, o Rotary tem que se abrir para grupos que assumem funções crescentes na comunidade. Percebemos a evolução do papel da mulher no mundo, mas tal percepção foi oficializada somente em 1989. Elas hoje representam um quarto do efetivo da nossa organização, e as admissões nas nossas áreas de atuação revelam que metade dos novos associados são mulheres. Recentemente, em 2019, admitimos que aos jovens caberá a condução dos destinos da instituição, com a elevação da importância do Rotaract – que, aliás, compartilha nossos valores, nossos programas, nosso entusiasmo por fazer o bem no mundo, e nossa noção de companheirismo e solidariedade. Mais recentemente, com o foco na diversidade, o nosso farol volta-se para a conscientização a respeito da inclusão das minorias, independentemente de raça, etnia e orientação sexual. Paralelamente a essa vertente de inclusão local, o Rotary, em seu âmbito global, também se torna mais diversificado com a crescente representatividade, no Conselho Diretor e nos comitês, de povos antes ausentes dos nossos fóruns de discussão.

4 – O Rotary descobriu que sua capilaridade é fundamental para parceiros. No passado, encetávamos projetos de nossa lavra, sob o controle total dos rotarianos. Descobrimos, no entanto, que, aliados a parceiros com os mesmos valores e objetivos, alavancamos muito do impacto nas 37 mil comunidades com a presença de clubes. Essa foi a grande herança da luta global contra a pólio, o primeiro e até agora único projeto corporativo do Rotary. As muitas campanhas em escala continental – como os esforços Hepatite Zero e Corona Zero, além da parceria em evolução com o Unicef na América do Sul – demonstram que sozinhos vamos mais rápido, mas juntos vamos mais longe.

Perderei meu contato mensal com vocês, sentirei saudades, mesmo tendo participado de mais de 700 reuniões virtuais nesses 15 meses de pandemia. Agora voltar-me-ei para a procura de novos desafios profissionais, mais dedicação à família e ao meu querido clube, o Rotary Club de Santo André, minha alma mater.

Acima de tudo, um enorme obrigado a todos, do mais poderoso ao mais humilde, do mais próximo ao mais distante, que me ajudaram a conduzir os destinos do Rotary e da Fundação nos últimos 72 meses no Brasil e na América do Sul.

“A vida me ensinou a dizer adeus às pessoas que amo, sem tirá-las do meu coração.” Charlie Chaplin estava certo, vocês todos estarão sempre no meu coração.

Que deus nos proteja nos caminhos futuros que a vida nos reserva.

P.S.: Abração especial aos curadores, governadores e coordenadores por me suportarem, nos dois sentidos da palavra. Vocês são os maiores responsáveis pelas realizações da gestão 2019-21. O que é um maestro sem uma ótima orquestra? Vocês executariam a Quinta Sinfonia de Beethoven sem mim, mas minha batuta nada alcançaria sem vocês. Gratidão eterna.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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