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Questões sobre a pólio

ago 22, 2012

Como rotarianos, estamos de fato apoiando o Rotary International no combate à pólio?

Existem questionamentos que muitas pessoas fazem, e que deveriam ser mais bem refletidos, para que de fato venhamos a apoiar, com ações concretas, o objetivo do Rotary de acabar com a pólio no mundo.

Por que ajudar outros países quando temos tantas necessidades por aqui mesmo?

O Brasil já recebeu e continua recebendo muita ajuda externa para a melhoria da condição de vida de nossa população.

Temos um papel a cumprir no cenário internacional, e precisamos dar nossa possível contribuição nos casos de desastres naturais ou intervenções em conflitos por forças de paz das Nações Unidas.

E a pobreza no Brasil? Especialistas consideram que possuímos os recursos necessários, e precisamos reduzir as ineficiências e canalizar melhor os recursos.

Pertencemos ao Rotary – uma organização internacional que tem a missão de servir ao próximo e promover a paz, e que adotou a causa da pólio em 1985. Quantos de nós não fomos atraídos ao Rotary pela pólio?

Por que combater a pólio se existem doenças que matam muito mais?

Em 2011, foram 650 casos da pólio. Nesse mesmo ano, estima-se que houve 280 milhões de casos de malária e 1 milhão de mortes. As doenças infecciosas – entre elas sarampo, tuberculose, Aids, pneumonia, diarreia, além da pólio e malária – são a segunda maior causa de mortalidade no planeta após as doenças do coração, e causam 13 milhões de mortes por ano, principalmente em crianças. As doenças infecciosas atingem em sua maioria os países pobres. O que aconteceria se usássemos os recursos da erradicação da pólio na prevenção e tratamento da malária? Não pouparíamos muito mais vidas? Sim, mas perderíamos todas as conquistas obtidas até agora. A pólio retornaria aos níveis existentes no início do programa de erradicação, com a importação do vírus por viajantes internacionais e fronteiras. Acabando com a pólio agora, passaríamos a ter uma economia de 1,5 bilhão de dólares por ano com os programas de vacinação dos países livres da pólio, além de 1 bilhão de dólares por ano que tem sido gasto nos países afetados com a pólio. Essa quantia é aceitável, se considerarmos que a erradicação está a um passo.

O programa de erradicação da malária foi lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1955 e foi abandonado 20 anos após, sendo substituído por objetivos menos ambiciosos. Não existe ainda uma vacina totalmente eficaz contra a malária. Existem 100 países com a doença, utiliza-se 1,5 bilhão de dólares por ano e estima-se serem necessários 5,5 bilhões de dólares por ano até 2020 para erradicá-la. A OMS preconiza que resolver um problema de cada vez, priorizando-o, é a melhor estratégia. E elegeu a pólio como doença prioritária para erradicação.

Por que combater a pólio se a miséria é um problema que aflige muito mais?

Segundo os Objetivos do Milênio das Nações Unidas, são necessários 175 bilhões de dólares por ano até 2025 para eliminar a pobreza extrema no mundo. Para isso, os 35 países mais ricos deveriam aumentar suas doações aos países mais pobres para 0,7% do PIB, o que tem sido difícil de conseguir. Só o continente africano necessitaria de 30 bilhões de dólares anuais. Vários países e organizações abraçaram a causa da fome. O combate à pólio foi o desafio que o Rotary abraçou.

Será realmente possível erradicar a pólio?

Até hoje, apenas uma doença infecciosa foi erradicada – a varíola. O Brasil foi considerado livre dela em 1973, a doença erradicada no mundo em 1980, e em seguida a vacinação deixou de ser exigida. A erradicação da varíola levou 13 anos. A da pólio já tem 24 anos. A erradicação da varíola custou 300 milhões de dólares. A da pólio já consumiu 9 bilhões de dólares e exigirá mais 1,5 bilhão de dólares na fase pós-erradicação. A varíola foi muito mais fácil de ser erradicada, pois é imediatamente diagnosticável, a necessidade de laboratórios de análise é mínima e a transmissão é restrita às pessoas que tiveram contato com o doente. Apenas uma dose é suficiente para imunizar, e o contágio é moderado. A pólio, por sua vez, é assintomática e altamente disseminável. Ataca um caso a cada 200 infectados, exige laboratórios sofisticados para detecção e enormes campanhas de imunização envolvendo até dez doses por criança. Por outro lado, o fato de não haver animais portadores do vírus, e os casos de sucesso na sua eliminação em grandes áreas, ajudam. A interrupção da pólio na Índia, no início do ano, foi uma grande conquista e reforça a crença de que é possível interromper a doença nos demais países.

Estamos de fato apoiando o Rotary no combate à pólio no mundo?

O último 1% tem sido muito mais difícil que os 99% anteriores. O que aconteceria se os doadores passarem a acreditar que a erradicação não é possível? Não haveria mais recursos e sem recursos não haveria mais a erradicação. O Rotary é um dos maiores doadores globais, e já doou 1,2 bilhão de dólares desde o início do programa, superado apenas pela Fundação Gates (1,4 bilhão de dólares) e pelo governo dos Estados Unidos (1,9 bilhão de dólares).

Como doadores, precisamos conhecer melhor a doença, o que está se fazendo para interromper a transmissão do vírus, as dificuldades e soluções, e ter confiança na capacidade dos parceiros da Iniciativa Global para Erradicação da Pólio: OMS, Unicef, Centro Norte-Americano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), Rotary International e Fundação Gates.

O papel dos rotarianos nos países afetados tem sido decisivo, atuando junto aos governos, e trabalhando na mobilização social junto às comunidades para as campanhas de vacinação. E qual seria o papel dos rotarianos nos países livres da doença? Apoiar o programa, divulgando o combate à pólio para a sociedade, conscientizando os companheiros de clube, levantando doações e destinando-as ao Fundo Polio Plus.

O que a pólio tem a ver com a paz mundial?

Os conflitos e guerras surgem quando há pobreza e opressão. A humanidade já erradicou a escravidão, o colonialismo e o racismo. Se pensarmos que cabe a nós trabalhar de forma coordenada, mudando o nosso entorno para modificar a sociedade, entenderemos que os grandes compromissos globais são, em última instância, compromissos individuais. O sucesso na erradicação da pólio irá reforçar a crença de que a humanidade pode enfrentar grandes desafios e erradicar as demais doenças até, quem sabe um dia, erradicar também guerras e conflitos. Essas questões devem ser claramente colocadas pela liderança do Rotary e, o caminho, mostrado. A erradicação da pólio é uma iniciativa global, mas não é um movimento global. Por isso, em maio deste ano, a 65ª Assembleia Mundial da OMS, aprovou uma resolução que estabelece a erradicação da pólio como um caso de emergência mundial. E em setembro próximo, o Rotary International comparecerá à Assembleia Geral das Nações Unidas, quando o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, fará um apelo aos chefes de estado para que doem recursos para o fim da erradicação da pólio. É uma oportunidade única para que abracemos de vez esse grande desafio.

Foto: Rotary Images.

* O autor é Wan Yu Chih, associado ao Rotary Club de Florianópolis, SC (D.4651).

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