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O movimento antivacina em debate

nov 29, 2019

Ilustra_AGO_RenataAs vacinas foram responsáveis por dobrar a expectativa de vida da população ao longo do século 20 ao reduzir a alta mortalidade infantil. Mas, atualmente, as imunizações encontraram um inimigo poderoso: o movimento antivacina. Em abril, o The Wall Street Journal noticiou que em Mumbai, na Índia, as autoridades de saúde não conseguiram realizar a vacinação em dezenas de escolas em grande parte por conta de boatos espalhados pelo WhatsApp.

Ouvimos Renata Ribeiro Gómez, pesquisadora em Comunicação e Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ela se tornou uma profunda conhecedora do movimento antivacina nas redes sociais ao estudar o fenômeno para a sua dissertação de mestrado. Seu objeto de estudo foi um grupo aberto do Facebook intitulado O lado obscuro das vacinas.

 

ROTARY BRASIL: Como surgiu o seu interesse pelo movimento antivacina?

RENATA RIBEIRO: Na Fiocruz, eu recebia algumas mensagens combatendo as vacinas e, embora elas não fossem expressivas, atraíram a minha atenção. Falavam principalmente sobre a qualidade das vacinas produzidas.

 

RB: E quando você percebeu que este movimento estava mais forte?

RR: No mundo eu não saberia precisar, mas, no Brasil, de uns quatro anos para cá, no máximo. E há uma conexão com as redes sociais. Quando comecei a pesquisar o grupo de Facebook O lado obscuro das vacinas, havia cerca de 3.000 membros. No final da pesquisa, dois anos e meio depois, em 2017, havia 13 mil membros. Às vezes um post tinha 300 comentários…

 

RB: Você acha que o fenômeno perdura?

RR: Há uma tendência, mas não poderia precisar. É algo que preocupa as autoridades brasileiras e mundiais. Neste ano, a Organização Mundial da Saúde decretou que uma das frentes de trabalho deve ser o combate à hesitação em vacinar.

 

RB: Do que se alimenta, em sua opinião, o movimento antivacina?

RR: As pessoas compartilham qualquer coisa nas redes sociais sem checar. É uma época marcada pelas fake news, por muita desinformação sobre efeitos adversos e por teorias da conspiração. Exemplos: o governo quer matar a população, há uma taxa absurda de mercúrio nas vacinas etc. Encontramos também um apelo muito grande por um estilo de vida dito natural que rejeita qualquer vacina ou medicação.

 

RB: Poderia falar sobre a segurança das vacinas?

RR: O processo de aprovação de uma vacina é muito longo e severo. Envolve várias agências reguladoras. É supermonitorado, caro, específico e há vários testes.

 

RB: O movimento antivacina pode ser, de fato, um dos responsáveis pela baixa cobertura vacinal no Brasil?

RR: Acredito que sim, mas outros fatores são mais expressivos. Os horários de funcionamento dos postos foram outra questão, assim como a disponibilidade e distribuição das vacinas. O Brasil tem dimensões continentais. Quem tem filho também sabe que a carteira de vacinação é complexa, e o que se observa é uma tendência da população em vacinar apenas nos surtos de doenças.

 

RB: O que o Rotary poderia fazer diante desse fenômeno?

RR: Propagar ao máximo os benefícios da vacinação. Já que uma questão forte é a dúvida sobre a segurança das vacinas, contribuir para tornar mais visível para todos o processo de qualificação do produto, trabalhando forte para as pessoas terem mais tranquilidade.

 

Conversa Rápida originalmente publicada na pág. 74 da edição de agosto de 2019 da Revista Rotary Brasil.

*Texto: Luiz Renato Dantas.

**Ilustração: Bruno Silveira.

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