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O Caso da Ilha da Morte

abr 30, 2014

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Rotariano enfrenta distância para salvar 300 cães abandonados

“Troco cão por sofá de canto ou mesa de seis lugares”. A proposta, feita por um anunciante de Curitiba, foi colocada em um site de classificados. No entanto, 2.756 quilômetros ao norte da capital paranaense, cães foram trocados por muito menos. E tiveram um destino macabro.

A prefeitura de uma pequena cidade na Ilha de Marajó, PA, está sendo acusada de ter oferecido dinheiro à população local para a captura e o extermínio de cães a fim de solucionar a sujeira e o risco de doenças que eles supostamente estariam provocando na cidade.

Nos primeiros dias de junho do ano passado, redes de televisão e sites de notícias começaram a divulgar a denúncia de que o prefeito, Marcelo Pamplona, teria oferecido cinco reais por cada cachorro e 10 reais por cada cadela caçados. A perseguição a laço dos animais pelas ruas, que depois eram amontoados nos porões de pequenas embarcações com as patas e focinhos amarrados com cordas e arames, foi filmada com um celular por Aragonei dos Santos – e mostra até crianças participando da ação. Na época, o morador disse à reportagem da Rede Record que precisou ser suturado na testa por causa de uma agressão sofrida enquanto defendia os seus cinco cachorros.

“Numa cidade que não tem emprego, a pobreza é gigante, o que aconteceu? Pessoas entravam nos quintais e pegavam um cachorrinho. E nos barcos, os animais eram sangrados e atirados para as piranhas”, denuncia Benedito Rodrigues Correa, associado ao Rotary Club de Guarulhos, SP (distrito 4430). “Mas muitos ribeirinhos acabaram vendo, se sensibilizando e soltando os animais para as margens dos rios”, completa. Quase cem cachorros foram mortos dessa forma e o restante, uns 300, acabou largado em uma comunidade isolada na ilha.

Sargento da Polícia Militar do Estado de São Paulo e apicultor, Benedito Correa, ou Correa do Mel, como é conhecido nas redes sociais e entre os guarulhenses por conta do seu trabalho voluntário de defesa dos animais iniciado há 27 anos, pegou um avião. “De Guarulhos até Belém foram três horas de viagem; pelo rio Arari, mais 25 horas de barco”. Ele começou os primeiros resgates em 25 de junho com a ajuda de um corpo de voluntários. “Resgatamos 130 animais, e nenhum morreu no transporte. Quando eu fiz o segundo registro para o Ministério Público haviam ficado mais de 150 cachorros na ilha. Foram morrendo, morrendo, e agora deve ter uns cem lá”, avalia.

Os cachorros foram transferidos para um abrigo público na região metropolitana de Belém, onde passaram a receber tratamento.

De seu próprio bolso, Correa – que, como defensor dos animais, explica ser vegetariano desde a adolescência – informa já ter gasto cerca de 74 mil reais para manter o grupo sobrevivente. Além disso, ele teve ajuda de rotarianos e comerciantes do Pará. E comprou outra briga: “Considero a Ilha de Marajó um dos lugares mais carentes do planeta. Estou cuidando dos animais e das pessoas, levando medicamentos, enfermeiro, médico para atender os ribeirinhos. Uma doutora que atua em Santarém ficou chocada com a pobreza da ilha.”

Repercussão

mel1A história da Ilha da Morte indignou pessoas no mundo inteiro. Em 14 de junho, o Ministério Público do Estado do Pará abriu inquérito para apurar o uso da máquina administrativa municipal pelo prefeito e investigar os crimes contra animais. Enquanto isso, o Ministério Público Federal também abria um inquérito a fim de investigar o uso dos recursos destinados ao controle de zoonoses, que são repassados ao município pelo Fundo Nacional de Saúde. No final do mesmo mês, Marcelo Pamplona chegou a ser afastado do cargo por 90 dias. Ele nega ter promovido maus tratos ou extermínio de cães em Santa Cruz do Arari. Correa continua promovendo campanhas de arrecadação de alimentos para os ribeirinhos e os animais abandonados na ilha, mas faz uma apelo: “Eu preciso de milhas aéreas. Estou tentando voltar a Belém para distribuir uma tonelada de alimentos, 6.000 brinquedos, 10 mil peças de roupas, 800 pares de sapatos e umas 100 caixas de medicamentos. O rotariano tem que estar no fronte para as coisas acontecerem”.

Ajuda global

A base de atuação de Correa é Guarulhos. Ali ele montou o castramóvel, um trailer com uma sala clínica – “com todos os aparatos dentro”, salienta – que percorre comunidades carentes vacinando e castrando animais domésticos. O trabalho é feito por três equipes de médicos veterinários que se revezam. E como a iniciativa se mantém? “Eu sou apicultor, vendo camisetas, peço apoio aos rotarianos, aos empresários”, responde. Em contrapartida, ele solicita aos donos dos animais para retribuírem o atendimento com uma ação comunitária. “A pessoa tem que ir a um hospital do câncer, fazer uma doação de sangue ou recolher quatro sacos de lixo da sua comunidade”, exemplifica.

O sargento da Polícia Militar também pode ser visto em pedágios montados no centro de Guarulhos. Com megafone e boné do Rotary, ele e companheiros do seu clube e do clube vizinho de São Paulo Nordeste-Vila Maria vêm pedindo roupas, alimentos e ração para atender a cidade de Itaoca, no Vale do Ribeira, SP, surpreendida por uma enchente em 12 de janeiro que deixou 25 mortos e 322 pessoas desalojadas. Entre os moradores atingidos pela destruição, muitos continuam vivendo de forma precária com seus animais de estimação. Em fevereiro, Correa e rotarianos dos dois clubes recolheram e entregaram quatro toneladas de alimentos e 300 quilos de ração em Itaoca.

“Nós temos condições de ajudar o nosso país”, diz Correa, entusiasmado. E completa com o seu lema: “Ajuda local é ajuda global”.

* Luiz Renato D. Coutinho (Brasil Rotário)

Tags: Rotary, Rotary International, Brasil Rotário, 2014, animais, abandono, adoção, capa, abril 2014

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