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Eles procuram um lar

abr 30, 2014

capaO número de animais abandonados nas cidades é incontável, mas muitos estão prontos para adoção

Dizem que os números não mentem. Dois anos atrás, eles indicavam que o Brasil está entre os países com maior população doméstica de cães e gatos do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e empatando com o Japão. O tamanho do nosso amor pelos mascotes pode ser medido em mais detalhes: segundo dados de 2012 da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação, nos lares brasileiros vivem 37,1 milhões de cães, 21,3 milhões de gatos, 19,1 milhões de aves e 2,1 milhões de mamíferos, roedores e répteis. Mas dizem também que toda história tem dois lados, e a da nossa relação com os animais não é diferente. Se desviarmos o olhar das casas para as ruas de todas as cidades do país, descobriremos um número impossível de ser calculado de bichinhos abandonados, em situação de vulnerabilidade.

Doenças, velhice, falta de tempo ou de recursos financeiros para cuidar de um animal estão entre as principais causas do abandono. Além desses fatores, a veterinária Luciana Teles, que há dois anos trabalha na Sociedade União Internacional Protetora dos Animais, ONG localizada na Zona Norte do Rio de Janeiro, destaca outra situação:

“Quando chega o final do ano, a quantidade de abandonos é absurda. As pessoas, às vezes, fazem isso pelo fato de que querem viajar e a hospedagem para o animal pode ser cara ou por não terem com quem deixá-lo. Aí, acabam abandonando”. No entanto, vale lembrar que esse tipo de decisão tem ao menos duas implicações graves: além de o abandono configurar crime previsto em lei federal e sujeito ao pagamento de multa, quem deixa um animal na rua contribui para o aumento das colônias existentes, que podem ser transmissoras de zoonoses prejudiciais à saúde humana.

Segundo Antonio Pires, mais conhecido como Tony Resgate, a população de animais de uma colônia só aumenta por três fatores: natalidade, migração e abandono. Administrador de empresas por formação, Tony hoje trabalha exclusivamente com o resgate de animais. “A maior parte do meu trabalho é de controle de população. Existem estudos que mostram que esterilizando 70% da população, a colônia tende a ser estabilizada. E atingindo de 80% para cima, a colônia passa a diminuir”, ensina ele, que atende empresas, protetores e quem quiser socorrer um bichinho, desde que esteja bem intencionado. “A pessoa tem que ter um destino bom para o animal quando ela me chama”, Tony explica.

Saudáveis para adoção

O que muita gente talvez não saiba é que um animal abandonado, ou que tenha sido resgatado das ruas e recuperado, pode estar com a saúde tão boa quanto aqueles comercializados em pet shops. A consultora de TI Christianne Duarte Garoiu descobriu isso quando decidiu adotar uma gatinha. “Eu sempre amei demais os animais, mas eu não tinha noção de que eles existiam nas ruas e precisavam de ajuda, precisavam de adoção; que poderiam ser tão saudáveis quantos os animais de raça que eram comprados, bastava você tomar as medidas necessárias, levar a um bom veterinário e fazer os exames iniciais”, conta. A gatinha dela veio do Campo de Santana, nome popular da Praça da República, localizada no Centro do Rio de Janeiro e um grande ponto de abandono de felinos.

Uma vez consciente da realidade dos animais que vivem nas ruas, Christianne abraçou a causa deles e se tornou uma protetora. Começou ajudando sozinha e, mais tarde, fundou a ONG Associação Quatro Patinhas. “O objetivo é resgatar, tratar e encaminhar para adoção. Infelizmente, não existe lares para todos”, lamenta Christianne, acrescentando que a ONG está praticamente com a lotação esgotada. Ela estima que, mensalmente, a Quatro Patinhas consiga adoção responsável para cerca de 20 animais – número bem menor do que os pedidos de ajuda que recebe. Mas para aumentar essa média, ela seria obrigada a abrir mão da avaliação criteriosa praticada pela ONG. “Há um questionário que a pessoa preenche e a gente conversa sobre o histórico de animais que ela já teve. Da forma como a pessoa conversa, já tentamos saber se é uma pessoa que vai cuidar direitinho do bichinho ou não. Normalmente, a gente também o leva à casa da pessoa para conhecer o local”, explica Christianne.

Além de conseguir lares seguros para animais que resgata e recupera, a Associação Quatro Patinhas tem também como prioridade a realização de campanhas educativas. “A função principal é educar, conscientizar e tentar combater essa quantidade de abandono com a esterilização. Um sonho nosso é fazer esterilização também”, conta Christianne. Para prevenir o abandono de animais diretamente na ONG, ela evita divulgar a localização do sítio onde está instalada a Quatro Patinhas. Apesar desse cuidado, ninhadas inteiras já foram deixadas na porta da instituição.

Abandono em empresas

01Outro espaço onde comumente animais são deixados é em empresas. Segundo Tony Resgate, nesses casos, quem abandona geralmente são os próprios funcionários. “O que acontece é que, boa parte das vezes, alguém não gosta, envenena e fica muito difícil para a direção da empresa explicar que não foi ordem dela. Acabam atribuindo o incidente à empresa, que muitas vezes gasta milhões com a imagem, e a imagem vai por água abaixo com uma coisas dessas”, comenta Tony. Mas a boa notícia é que, de acordo com ele, esse comportamento está começando a mudar. Tony cita como exemplo um grande shopping center no Rio de Janeiro que, depois de ter tido o extermínio de animais dentro do seu terreno noticiado na TV, transformou os cuidados com eles em um projeto próprio. “Nós pegamos 160 gatos que foram esterilizados e o shopping hoje dá ração super premium. Acho que os gatos do shopping são mais bonitos que os da minha casa”, conta.

Na avaliação de Tony, quando uma empresa toma a decisão de cuidar adequadamente dos animais que foram deixados em seu terreno, todos saem ganhando. “Acho que sai bem mais barato fazer um trabalho correto, controlar a população de forma correta, humana, e a empresa ainda pode tirar louros disso”, acredita ele. Por outro lado, esse tipo de comportamento tem ainda impacto positivo nos empregados. “A influência nos funcionários é muito grande. Eles passam a observar isso, passam a ver a empresa tomando essa atitude e passam a enxergar isso com outros olhos”, diz.

Na ausência de campanhas ostensivas para educar a população a respeito das graves consequências do abandono e das vantagens da adoção, quem sabe se a atitude responsável de empresas não pode ter papel fundamental na necessária mudança de mentalidade em relação à questão dos animais? Afinal, preocupadas em desenvolver e cuidar da imagem corporativa, muitas parecem já ter compreendido que o que fazemos aos outros diz muito sobre nós.

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* A autora é Renata Coré, jornalista da Brasil Rotário.

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Tags: Rotary, Rotary International, Brasil Rotário, 2014, animais, abandono, adoção, capa, abril 2014

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