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Lições aprendidas em 13 meses de pandemia

mai 7, 2021

“Um navio no porto está seguro. Mas não é para isso que os navios foram feitos.” – William Shedd

Este é o penúltimo artigo que escrevo para a Rotary Brasil numa sequência de 72 meses, desde julho de 2015, quando assumi o cargo de curador da Fundação Rotária. O tema do aprendizado nesses seis anos será o foco do último artigo, no próximo mês. Neste, quero ressaltar as lições aprendidas em 13 meses de confinamento pela Covid-19, como todos os rotarianos da América do Sul.

1 – O Rotary caminha para uma maior diversificação.

As tendências pré-pandemia foram exponencializadas por ela: ingresso crescente de mulheres, de rotaractianos e outros públicos. Nosso desafio de descolar da estagnação será superado em nossas zonas de redução do quadro associativo pela incorporação de audiências novas. Nossas zonas 23 e 24 apresentam expressiva participação feminina, em torno de 30%, superior à média mundial de 24%. Testemunhei a posse virtual de mais de 2.000 novos associados ao longo desses 13 meses e minha contabilidade pessoal indicou 50% de participação feminina, o que necessariamente refletirá numa fatia maior nos próximos gráficos. Haverá incorporação de novos públicos, como minorias sociais, dentro da ênfase recentemente implantada pelo Rotary de diversidade, equidade e inclusão. “Ah, mas o Rotary não é mais o mesmo, corremos o risco de extinção”, lamentam alguns. Nem pensar. A instituição apenas segue o mantra de seus 116 anos: ser um corte transversal da comunidade. Muda o entorno, muda o Rotary. Até para sobreviver.

2 – O Rotary caminha para um maior rejuvenescimento.

Por sua cobertura territorial global, diversidade cultural e pelos diferentes cenários econômicos dos seus 528 distritos, nossa organização reage a passos de paquiderme às mudanças. Não somos uma multinacional de cerveja, que rapidamente conquista mercados, aniquila ou compra concorrentes, demite para baixar custos. Somos uma organização humanitária, baseada na solidariedade e na diminuição das mazelas de nossas circunscrições. Reagimos como um transatlântico, não um barco de corrida. Levamos 84 anos para incorporar mulheres ao quadro associativo e 61 para perceber que os jovens são uma força vibrante e nossos herdeiros. Nossa lupa voltou-se à juventude há pouco tempo, ainda que nossos óculos a tivessem mirado seis décadas atrás. O desafio virtual somente acelera esse olhar para os jovens por seu natural conforto com os meios digitais, seu “habitat” de berço. O Rotaract cresce 8% ao ano, enquanto o Rotary encontra-se estagnado há 25 anos. Os rotaractianos compartilham e valorizam nossos ideais, programas, jargão, objetivos. Naturalmente, isso implicará em ajustes e aproximação para reduzir o hiato geracional. Mas um capitão de empresa não faria diferente ao ser mentor dos seus sucessores. A pandemia ajuda no processo de incorporação dos jovens ao Rotary, ao contrário do que muitos pensam.

3 – O Rotary caminha para uma maior flexibilização, com mais conteúdo e menos forma.

A pandemia tem efeito duplo e antagônico: ao mesmo tempo que ceifa a vida de centenas de rotarianos de protagonismo e liderança, um efeito nefasto e doloroso, provoca uma reflexão sobre nossas prioridades. Somos um clube de amigos e amigas que se reúnem semanalmente para confraternizar ou um clube com foco na comunidade? Esse período de ausência presencial ajudou-nos a atestar que os clubes podem funcionar fora do modo tradicional. Os clubes satélites foram criados muito antes da pandemia, mas seu conceito é hoje mais palatável com a migração para o ambiente virtual. Clubes com propósito, projeto, que reúnem gente em torno de uma ideia, para resolver um problema. Um conceito novo, que antes da pandemia era mal compreendido, e que a pandemia ressaltou como alternativa viável. Voltaremos às reuniões presenciais? Óbvio, todos ansiamos por isso. Mas não creio que futuramente seremos responsáveis por gerar mais receita para os bufês dos clubes do que para os projetos. Voltamos ao essencial: Service Above Self. Sobre a frequência: 100% de frequência durante anos, sem qualquer compromisso com a comunidade; ou menor frequência com propósito e engajamento? Nossa régua para medir comprometimento mudou, e a pandemia involuntariamente contribui para esse câmbio.

4 – Por último, o Rotary caminha por onde sempre caminhou.

A pandemia e as reuniões virtuais mudaram as tendências do quadro associativo? A resposta é um contundente não. Países como Índia e Taiwan cresciam antes da pandemia e a tendência permanece. Os do bloco intermediário, como Brasil e demais países da América do Sul, apresentam comportamento de altos e baixos, independentemente do novo coronavírus. Países que já lideravam a corrida negativa do decréscimo, como Inglaterra e Estados Unidos, descem ladeira abaixo no quadro associativo. Ficar de braços cruzados diante da pandemia é chorar. Admitir novos associados e fundar clubes é vender lenços. Somos da segunda turma. E prestem atenção ao dia 3 de maio de 2021, quando teremos a maior posse coletiva do Rotary no Brasil. Desafios não nos assustam, só nos motivam. E nossos navios estão no mar, em águas revoltas, que testam os verdadeiros capitães.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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