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Crise ou oportunidade?

jun 1, 2020

“Nunca desperdice uma boa crise” – Winston Churchill

Esta é a oportunidade de fazermos um balanço de gestão até o momento em que fomos atingidos pelo tsunami da Covid-19. Trata-se de um levantamento que também pode valer como referência histórica. Primeiramente, devo confessar minhas dúvidas sobre certas afirmações categóricas de que o mundo não será o mesmo após a pandemia. Discurso parecido surgiu em relação ao episódio do 11 de Setembro, em 2001, que tornou as viagens mais burocratizadas e incrementou mecanismos de monitoramento no estilo big brother, inclusive com reconhecimento facial – procedimentos esses que se disseminaram pelo mundo. Ainda assim, as nossas vidas seguiram em frente.

Sem dúvida, o choque da pandemia mudará o ambiente de negócios e, inicialmente, passada a grave situação, haverá certa hesitação no contato físico. Além disso, empresas quebrarão, o ambiente virtual ganhará milhões de neófitos, prioridades governamentais serão reavaliadas e líderes emergirão e submergirão. Mas, ainda assim, o ser humano prosseguirá sua saga. Ele caminhará com esperança, mais solidário, mais conectado e mais ativo em sua comunidade. E o Rotary lucrará com esse movimento, desde que projetemos a imagem de uma instituição voltada ao melhoramento do ser humano, refletida no lema Dar de Si Antes de Pensar em Si. Dessa forma, divulgaremos uma entidade de gente de ação, atrativa para futuros rotarianos.

 

Números importantes

Um relatório de gestão pode ser enfadonho pelo seu aspecto numérico, soando, a princípio, pouco estimulante, porém é necessário que mensuremos nossa trajetória até abril de 2020 para informar os rotarianos da América do Sul. Vamos aos números:

1) O que o Rotary está fazendo em âmbito mundial para combater a Covid-19? Até 15 de maio, a Fundação Rotária havia aprovado 13,017 milhões de dólares para 157 projetos de Subsídio Global. Solicitações de Subsídios para Assistência em Casos de Desastre somam 300 no mundo, 193 dos quais aprovados, num total de 4,807 milhões de dólares. Para os 45 distritos das Zonas 23 e 24, Brasil e América Hispânica, foram aprovados 27 projetos, totalizando 675 mil dólares – fruto da agilidade dos governadores distritais do continente ao requisitar esses fundos, alocados para quem primeiro chegar.

2) Qual o impacto da crise na captação de recursos da Fundação Rotária/ABTRF no Brasil? Até 30 de abril, nenhum. O volume captado no ano 2018-19 foi de 2,370 milhões de dólares. No atual ano, 2,404 milhões de dólares. Devemos considerar que o dólar teve valorização de 42% no período, significando que a arrecadação cresceu na mesma proporção em reais, um feito a ser reconhecido.

3) Como está o quadro associativo em termos globais? Dentro do atual período, até a mesma data de 30 de abril, houve um aumento de 27.933 rotarianos no mundo, fato que poderia ser considerado alvissareiro. Acontece que, se comparado a abril de 2019, estamos 9.154 abaixo, o que vem ocorrendo há dois anos, uma tendência perigosa.

4) Como se encontra o quadro associativo no Brasil hoje? Em relação a 1º de julho de 2019, 20 distritos ganharam associados, enquanto 11 distritos perderam, num crescimento líquido de pouco mais de 600 companheiros. Esse número preocupa se levarmos em conta que o acréscimo havia chegado a mais de 2.000 rotarianos em outubro último. A eclosão da pandemia, por sua vez, torna incerto o impacto no quadro associativo.

5) Em termos globais, o Rotary perderá associados? Essa é a pergunta de 1 milhão de dólares. Ninguém sabe ainda, tendo em vista o ineditismo desta crise de saúde pública – pelo menos desde a gripe espanhola de 1918-20. Mas, se nos valermos das estatísticas que o Rotary dispõe de seus 115 anos de existência, apenas em 1932 e 1933, na esteira da Grande Depressão, o quadro associativo sofreu uma queda expressiva – da ordem de 5,6%. As estatísticas do Rotary projetam, com uma margem de acerto de 95%, a possibilidade de queda ou aumento de 1,8% do quadro associativo nos próximos quatro anos. A vermos.

6) Haverá um impacto na captação de recursos para a pólio? Ainda há tempo para reagirmos, mas o investimento em projetos contra a Covid-19, no total de 17,8 milhões de dólares (conforme detalhado no item 1), solapou as reservas que poderiam ser destinadas à luta contra a pólio e, nela, a equiparação de dois para um com a Fundação Bill & Melinda Gates. No momento em que escrevo, 19 de maio, faltam ainda 16 milhões de dólares para chegarmos aos 50 milhões de dólares do compromisso – e não podemos esquecer que, para cada dólar do rotariano, faltarão dois dólares da contrapartida. Precisamos, portanto, reagir e rapidamente nestas semanas finais de 2019-20.

O Rotary atravessou mais de um século de desafios. Eles são nossa marca de nascença. Enfrentamos a Grande Depressão, a gripe espanhola, a crise do petróleo e duas guerras mundiais, as quais geraram frutos com a digital do Rotary, como a Unesco e a ONU. Tornamo-nos maiores diante da crise, afinal, somos marinheiros de mares revoltos, não de piscina. Seguindo o pensamento do primeiro-ministro Winston Churchill, que conduziu a Inglaterra em seu período mais turbulento, não desperdiçaremos uma boa crise. Sairemos dela maiores e mais fortes. Lutaremos em todas as lives possíveis para manter a nossa equipe motivada e conectada, abrindo oportunidades até nos encontrarmos novamente para um forte abraço rotário, com um mundo livre da Covid-19.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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