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Contradições da globalização: fantásticas conquistas, retumbantes fracassos

jan 22, 2013

O título deste artigo reproduz littera per litteras o subtítulo do capítulo I do livro Dilemas da educação superior no mundo globalizado, do Prof. Dr. José Dias Sobrinho.

Escrevi este artigo, primeiramente para cumprir a minha obrigação de seu aluno e homenageá-lo neste do dia dos professores, e também para registrar minha insípida concordância com a opinião do emérito autor sobre a globalização, fenômeno econômico de nossa época que mudou o mapa-múndi, impôs idiomas, criou moedas, interferiu negativamente no ensino superior, enfim “barbarizou” o mundo.

Afirma José Dias em seu livro que a globalização não é um fenômeno recente, nem é desdobramentos da internacionalização e muito menos é a transnacionalização. Recorre a Canclini para afirmar que a internacionalização da economia e da cultura se iniciou com as navegações transoceânicas, com a abertura dos portos e colonização e que a transnacionalização é um processo que se vai formando através da internacionalização da economia. Já a globalização dá os primeiros passos na primeira metade do século XX criando empresas, mecanismos e movimentos cuja sede não está exatamente em uma nação.

A globalização é um processo em que estão em contínua interação e dependência a economia, as finanças, o mercado, a política, as relações pessoais, os sistemas de informação e comunicação, a ciência e a tecnologia, a cultura, a educação, a mentalidade vagamente chamada de pós-modernidade. Mudaram-se as antigas noções de tempo e espaço, multiplicaram-se os meios e os impactos da informação global e instantânea, modificaram-se as características do trabalho e do lazer, alteraram-se as relações entre pessoas, transformaram-se os conceitos de território, aumentaram-se os deslocamentos de pessoas e o contato com diferentes culturas.

Tudo isso provocou um acúmulo de novos conhecimentos, Os avanços técnicos e científicos trouxeram ganhos para uma grande parcela da humanidade: maior longevidade, maior capacidade de produção e estocagem de alimentos, democratização das comunicações e tantos outros avanços.

A globalização afeta a todos. O grande desafio é fazer com que essas transformações diminuam as desigualdades sociais; deixem de produzir violências e incertezas, e gerem benefícios para todos. Não é o que tem acontecido, pois a globalização está produzindo efeitos perversos, do ponto de vista ético, em relação à justiça social, à equidade, ao respeito à diversidade e aos direitos dos cidadãos.

Ao mesmo tempo em que é louvada pelos benefícios que apresenta a globalização também é objeto de duras críticas, pois para mais da metade da população mundial a globalização tem significado mais miséria, mais fome, mais violência, mais exclusão, mais desemprego, mais concentração de rendas, mais insegurança.

A competitividade acirrada entre corporações transnacionais, que concentram importante parcela do capital do mundo, determina os destinos de todos, torna mais profunda as diferenças entre países e enfraquece os Estados. A consequência dessa centralização do poder é o aumento da pobreza e da miséria, conclui José Dias.

E o que dizer da influência da globalização sobre a educação, especialmente sobre o ensino superior?  Ao longo da história as universidades mantiveram-se como instituições livres, independentes, posicionando-se acima dos regimes políticos vigentes. Esta posição de independência é necessária, para que a universidade possa desempenhar o seu papel de produtora e distribuidora de conhecimentos para o sistema. Cabe unicamente ao Estado garantir a liberdade e autonomia das instituições.

Com o fenômeno da globalização, as universidades foram transformadas em centros de preparação de profissionais, algumas financiadas por capitais estrangeiros. Aconteceu a mercantilização do ensino, a padronização dos currículos. O conhecimento puro deu lugar ao conhecimento profissional.

E tem algo ainda mais grave: com a globalização as universidades ganharam um senhor, o capital estrangeiro, que financia suas ações, determina seus cursos e currículos de acordo com seus interesses econômicos, e coloca-as a serviço da produção de profissionais.

São pesadas as nuvens no horizonte da educação em nosso país, quando temos um modelo de universidade servil ao capital estrangeiro. Não podemos admitir que isso venha a acontecer. Coloquemo-nos em defesa das nossas tradições e de uma universidade livre.

* O autor é Edson Boni, administrador de empresas e associado ao Rotary Club de Itu-Convenção, SP (D.4310).

** Fonte: Dias Sobrinho, José – Dilemas da educação superior no mundo globalizado – sociedade do conhecimento ou economia do conhecimento? / São Paulo : Casa do Psicólogo, 2010.

*** Foto: Stock.XCHNG.

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