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Carta a um ex-rotariano: É hora de voltar!

set 1, 2020

Desconheço as razões da sua saída. Talvez, arrogantemente, nem lhe tenham perguntado os motivos para a partida. Ou, ainda pior, nem tenham notado sua ausência. Várias reuniões depois, é como se você nunca houvesse frequentado o clube, dedicado tanto tempo aos seus programas e projetos, suportado infindáveis horas de protocolo e discursos.

Alguns valeram a pena. Outros, para ser polido, deveriam ter sido mais bem escolhidos. Você não recebeu treinamento, instrução rotária e mal conheceu o Rotary depois de três anos. Talvez você não saiba, mas 62% de nossos companheiros nos abandonam antes de completar o triênio. Nem tomam conhecimento da organização, e saem pela porta dos fundos, maldizendo o esforço perdido e a organização que nunca o enxergou.

Quiçá você tenha sido relegado à “geladeira”, à mesa longínqua da presidência, nunca assimilada por nenhuma das famosas “panelas” do clube. Ou, ainda, nunca tenha sido convidado a engajar-se num projeto do clube, promovendo conexão com os companheiros e identidade com os propósitos da organização. Afinal, somente para jantar, há cardápios melhores que os do Rotary.

Provavelmente, você é parte do exército de 10.934 rotarianos que fugiram do Rotary em 2019-20 somente na América do Sul. Supreendentemente, entraram 10.642, um comprovante da atratividade da instituição para potenciais associados. Contudo, dentro da teoria da porta giratória, seu clube foi incapaz de retê-lo, e, ao fim da gestão, o Rotary perdeu no continente sul-americano, em termos líquidos, 292 companheiros. Por mais denodo demonstrado pelos governadores distritais, fundando clubes com grande fanfarra e acolhida, você foi olvidado e partiu discretamente pelos fundos.

Perdemos 0,4% do quadro associativo em um ano. Em escala global, a perda foi maior: em termos líquidos, de 12.333 rotarianos – ou 1% do total de 1,185 milhão de associados.

Mas, em termos de rotatividade, perdemos 14,6% do nosso exército do bem, contra 10,7% no mundo. Ou seja, graças à saída de companheiros como você, rodamos nosso quadro inteiro a cada sete anos no Brasil e na América do Sul, contra dez anos para o mundo.

Imagine você, como empresa, perdendo todo o quadro de colaboradores a cada sete anos. Esforços de prospecção, entrevistas, admissões, instruções, capacitações, viagens, horas investidas. Tudo pelo ralo.

Pode ser que você esteja num daqueles clubes que “racham” no cenário político, porque os dirigentes deixam envolver a marca Rotary em disputas partidárias. Esquecem que o homem é um ser político – e o Rotary também o é –, mas nunca partidário. Como organização, não pode tomar e nunca tomará lado na equação. Nosso foco é no desenvolvimento de um mundo mais igualitário, mais diverso, mais justo, mais solidário. Seu clube conseguiu praticar esses valores enquanto você frequentava as reuniões?

Ou, então, você pertenceu a um clube que abomina o crescimento, porque os atuais associados consideram “ideal” o tamanho do clube? Esquecem que o relógio do tempo, inexorável, trabalha contra eles, e que estagnar não significa parar, significa morrer. Pensam: por que admitir jovens, mulheres, outras raças, religiões, se nosso “clima” é tão fraterno? Assim refletindo, brevemente reunir-se-ão ao Rotary Club do Paraíso, comandado por Paul Harris em pessoa. Todavia, nesse processo, condenarão seus clubes ao mesmo destino.

O Rotary está mudando. Com velocidade de transatlântico, não de lancha, mas ainda assim em correção de trajetória. Você poderá juntar-se a um clube de reuniões virtuais – ainda que na pandemia todos sejam forçados a esse modelo, com aprendizado positivo –, um que tenha uma entidade humanitária como foco. Ou a um clube baseado numa empresa, com executivos revezando-se nas reuniões, bem como a um clube em universidade, com o corpo docente.

A flexibilidade e a inovação são valores incorporados ao planejamento estratégico. Sem serem antagônicos à nossa tradição, da qual nos orgulhamos, eles nos permitirão melhor adaptação aos novos desafios. A Rolls-Royce é tradicionalíssima, mas seus modelos incorporam hoje todas as modernas tecnologias de um auto do século 21, com os valores de perfeição que a geraram.

O mundo mudou, principalmente nos últimos anos, e, particularmente, nos últimos meses. Padrões novos de trabalho, reuniões, profissões, ameaças, oportunidades surgem cotidianamente. O Rotary sobreviverá graças à sua capacidade de se adaptar a essas novas realidades.

E você, ex-companheiro, está convidado a retornar. Talvez ao seu clube, porventura a outro. O Rotary continua a conectar o mundo mais do que nunca e a abrir oportunidades. É hora de você voltar.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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