Precisamos encontrar juntos os caminhos do servir e da paz
Quando jovens, buscamos com ansiedade o caminho das realizações. À medida que os anos se passam, descobrimos que os caminhos se multiplicam e a cada instante temos que fazer escolhas. Diz um pensamento oriental que em cada instante estamos numa encruzilhada, e se escolhermos o caminho certo, faremos uma ascensão.
Vivemos numa sociedade capitalista repleta de oportunidades, inclusive a de acertar ou errar, e mesmo que se acentue a desigualdade social, ainda assim é possível criar alívio. É aqui que o Rotary se insere quase como uma utopia ou um sonho. Eliminar a pólio, uma doença que há milhares de anos faz famílias chorarem pela sorte dos seus filhos, mesmo que ricas e poderosas, é uma grande missão que por si só justifica a nossa organização.
O mundo se arma com bombas atômicas e armas mortíferas como os drones, dotados de comandos que são capazes de destruir os inimigos com precisão cirúrgica. Nossa organização forma especialistas nos Centros Rotary pela Paz e incute em cada um de nós o comprometimento com um mundo pacífico. Qual é o caminho mais sustentável: o da busca pela imposição do poder bélico ou o caminho da aproximação, tão bem realizado por nós em iniciativas como o programa de Intercâmbio de Jovens, dos bolsistas da Fundação Rotária e o do servir compartilhado com todo o mundo? Nosso desejo de paz pode até parecer irrealizável, mas somos felizes por acreditar que mais vale investir no homem, centro de todas as coisas, do que investir bilhões em armas.
E o que é a ABTRF? É a parte do sonho e da utopia nascida no Brasil com os olhos voltados para o mundo. É como um laboratório financiado pelo patrocínio de associações corporativas que contribuem para a sustentação do maior anseio dos rotarianos: a paz! A ABTRF é um dos braços da Fundação Rotária e, apesar de jovem, por ter sido fundada em 9 de março de 2004, já tem um peso significativo nas contribuições brasileiras. Albert Einstein dizia que o tempo não se mede pelas horas, pois é uma dimensão. Cremos que o servir não se mede pelo valor das contribuições, mas pela dimensão da fé rotária que professamos e que é indispensável em nossa aspiração. Sonho não é uma coisa de gente velha, mas algo que na pouca idade aprendemos a cultivar. Por isso, queremos envolver a juventude de modo inteiro no sonho e na ação.
Valorizando a juventude
Quando só enxergamos o Rotary como uma organização ímpar, corremos um sério risco de alienação. Assim, na busca por uma visão macro, vejamos, por exemplo, como outro segmento social, a Igreja Católica, valoriza a juventude. O ano de 1985 foi designado pelas Nações Unidas como o Ano Internacional da Juventude, e então o papa João Paulo 2o deu a partida à primeira Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que se repete a cada dois anos. Os jovens são os protagonistas deste encontro que pretende mostrar ao mundo o rosto jovem de Cristo. O papa participa da JMJ, quando então ocorrem companheirismo, testemunhos, partilha, exemplos de amor ao próximo, festivais de música e atividades culturais. Enfim, é um encontro movido pela esperança de que a fraternidade na diversidade é possível.
Naturalmente, vocês observaram no parágrafo acima que este movimento tem dezenas de interfaces com o ideal de servir. Vejamos mais: a JMJ tem atraído um número incrível de jovens, que algumas vezes já ultrapassou a casa dos milhões. A última edição, em Madri, teve dois milhões de participantes, e a maior delas foi nas Filipinas, com cinco milhões. A próxima será no Rio de Janeiro, este ano, e projeta-se uma participação de quatro milhões de jovens. Com tal escala, é natural que também as famílias participem como voluntários para a acolhida, e o chamamento é: “Se alguém tem o dom de servir, o exerça como um dom dado por Deus”.
O papa emérito Bento 16 disse que a paz deve começar na formação dos jovens e gostaria de vê-la revestida de uma perspectiva educativa: “Os diplomas acadêmicos são importantes para o crescimento dos jovens, mas cabe às organizações com visão educar o jovem para a justiça e a paz, pois com seu entusiasmo e idealismo elas podem oferecer uma nova esperança para o mundo”.
Percebemos que no Rotary estamos no caminho certo da valorização da juventude por meio de múltiplos programas. Percebemos também que muitas outras organizações pensam de modo semelhante e, mais ainda, que a enfatização de valores, o servir e a busca incessante pela paz mundial encontram eco nos jovens. Nosso maior evento é a Convenção Internacional – e cremos que esta é a hora de termos um dia para a juventude em sua programação. Afinal, só os rotaractianos e os interactianos representam o número expressivo de 580 mil membros. Precisamos encontrar juntos os caminhos do servir, pois a juventude não representa um movimento paralelo, já que também é prenhe de idealismo e entusiasmo.
Concretizando uma oportunidade
Quando, em 2010, aconteceu um terremoto e um tsunami no Chile, a Mercedes-Benz decidiu realizar uma ação solidária, mas desconhecia como fazê-la sem que se encolhesse pelo meio do caminho. Naquela oportunidade, uma jovem advogada, Ana Carolina da Costa, assistente da diretoria e rotaractiana, sugeriu o nome do Rotary. Com isso, uma das maiores contribuições corporativas veio para a ABTRF, que imediatamente a multiplicou em parcerias com outros Rotary Clubs do exterior por meio de Subsídios Equivalentes para equipar os hospitais e escolas chilenos destruídos pelo desastre. Naquele momento, 568 mil dólares (o equivalente a 1 milhão de reais à época) fizeram uma diferença na vida de milhares de pessoas.
A existência da ABTRF é a concretização da oportunidade de se trabalhar para o bem comum. E o que é isto? Se é comum, significa o outro – e nenhum ser humano atinge a plena realização somente em si mesmo, e para isto depende de si e dos outros. O mundo em si é uma árvore de dependências e na nossa estão os rotarianos, os rotaractianos, os interactianos, os rotakidianos, os intercambistas, os bolsistas e os alumni. Aqui, a criatura e o criador se amalgamam e o fruto é a Paz Através do Servir.
O tempo pequeno, como por exemplo o dia, se mede pelas horas e minutos. Já o outro tempo, o da vida, é uma dimensão que só existe com a inclusão de todos. Sem a juventude, ele não teria sustentabilidade. Os distritos que ainda não atingiram a plenitude na participação visível na ABTRF poderão ter na juventude a fonte da vida para os subsídios, o Seguro Solidário, o Empresa Cidadã e outros programas.
Obrigado, meu Deus, por nos permitir a percepção de que a dimensão do Rotary é infinita como o ideal da juventude pelo Dar de Si Antes de Pensar em Si e pela Paz Através do Servir.
* O autor é Hipólito Ferreira, diretor 1999-01 do Rotary International e presidente do Conselho Consultivo da ABTRF.