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A chance de mudar o próprio mundo

mai 11, 2020

A trajetória de André Vilaverde Moutinho

“Quando fui a um Rotary Club pela primeira vez, ainda no Interact, perguntaram o que eu seria no futuro, e eu disse ‘governador de distrito’”, recorda André Vilaverde Moutinho, que em 1º de julho de 2019 assumiu a governadoria do distrito 4780, no Rio Grande do Sul. “O Interact e o Rotaract desenharam toda a minha trajetória familiar e profissional. Essa experiência nos programas pró-juventude fez com que eu verdadeiramente entendesse e colocasse em prática na minha vida o espírito do Rotary, marcando tudo que aconteceu comigo desde então.”

Nascido em Porto Alegre em 1972, André foi morar em Alegrete, no oeste do Estado, ainda pequeno. Caçula da família, ele e as duas irmãs mais velhas foram criados pela mãe, professora. Para ajudar em casa, o menino começou a trabalhar aos 12 anos, vendendo bolos.

Da mãe ele diz que recebeu uma educação muito boa. Do Rotary, novas perspectivas. Quem falou do Interact foi um amigo de escola. André tinha 13 anos quando ingressou no clube. As lembranças mais fortes são de novas amizades e solidariedade. “A gente se encontrava na casa de um companheiro, tomava café e saía pra pintar uma casa. Era maravilhoso.”

André com os companheiros de Interact (ele é o primeiro à esquerda) em 1992

André com os companheiros de Interact (ele é o primeiro à esquerda) em 1992

“Quando deixei Alegrete e vim fazer faculdade em Bagé, fui acolhido pelos interactianos, fiquei na casa deles”, conta. “Fiz grandes amizades, que me acompanham até hoje. Uma das grandes lições daquele tempo é aprender a trabalhar e conviver em grupo. O Interact te ensina a viver em democracia. Você sai do teu mundinho fechado e vai viver a realidade dos outros, em comunidades muito carentes. O Interact me abriu as portas.”

No caso de André, abriu também as portas do coração. Foi no Interact que ele conheceu Cássia. “Tínhamos 16, 17 anos, e começamos a namorar.” O relacionamento foi amadurecendo e acabou em casamento. Em paralelo, André seguia seu caminho, agora no Rotaract. Em 1993-94, ele chegou a representante distrital de Interact e, em 1996-97, a representante distrital de Rotaract – cargos que, na estrutura dos programas, equivalem ao de governador de distrito.

André com os companheiros de Rotaract, em Bagé, ele é o primeiro à direita

André com os companheiros de Rotaract, em Bagé, ele é o primeiro à direita

A transição para o Rotary foi acontecendo aos poucos. Ele já conhecia alguns rotarianos e acabou convidado a associar-se ao Rotary Club de Bagé-Campanha, seu clube até hoje. “Fui muito bem recebido. Como sempre me interessei pelo Rotary, entendia bem a organização, por isso não fiquei perdido, não me senti numa ilha.”

PERDA E RECOMEÇO
Em 2007-08, André tornou-se o presidente mais jovem do clube até a ocasião. Faltando um mês para o fim da gestão, nasceu Vitória, a tão esperada filha, fruto de muitas tentativas.

Tudo parecia perfeito até que, três anos depois, um exame revelou que Cássia tinha um câncer no estômago. O tratamento levou a família para Porto Alegre. O foco dos dias passou a ser a recuperação dela. Durante o tempo na capital, mesmo afastado do Rotary (“um ano e meio”, ele lembra, único hiato desde o Interact), os companheiros permaneceram por perto. “Toda semana alguém do clube ia ao hospital.”

Uma luta, uma luta pesada, que Cássia, sempre guerreira, acabou perdendo em 2012, aos 37 anos. André tinha pela frente a difícil tarefa de recomeçar a vida. A pequena Vitória, com três anos, precisava que ele fosse forte, e André foi. Mais uma vez, o Rotary estava por perto. “Duas semanas depois do falecimento de Cássia, o pessoal do clube foi até minha casa me buscar para a reunião. Eles disseram que eu não podia ficar sozinho, me chamavam pra jantar, sair.”

Depois de quatro anos recuperando-se da perda, André conheceu Andréia e, com ela, outra porta da vida se abriu. Os dois estão vivendo juntos na casa onde também moram Vitória, hoje com dez anos, e suas novas irmãs, Isabela e Gabriela, filhas de Andréia, de nove e 11 anos.

Foto oficial que ele e Andréia tiraram na Assembleia Internacional deste ano com o presidente 2019-21 do Rotary International, Mark Maloney, e a esposa, Gay

Foto oficial que ele e Andréia tiraram na Assembleia Internacional com o presidente 2019-21 do Rotary International, Mark Maloney, e a esposa, Gay

Por conhecer intimamente o valor dos programas pró-juventude, André Moutinho, que já fundou mais de dez clubes de Interact e Rotaract, dedica especial atenção a eles como governador. “Quero valorizar interactianos e rotaractianos, mostrando que eles são nossos companheiros, só que com idades e ideias diferentes”, diz.

Paciência e tolerância
André acredita que, durante essa transição do Rotaract para o Rotary, todos precisam ter muita paciência e tolerância.
“O grande desafio do rotaractiano quando entra num Rotary Club é começar tudo do zero, entender que ali ele será mais um na engrenagem”, avalia. “Eles se sentem frustrados porque querem as coisas pra ontem, mas no Rotary as coisas não são pra ontem, há todo um processo, um trabalho que é construído reunião após reunião.”

E quais são os desafios dos rotarianos nesse momento? “Entender que esse jeito novo de pensar dos jovens é o que fará a engrenagem rodar. Muito rotariano não consegue ter essa visão de mudança que o jovem traz, e a mudança sempre vai acontecer, porque ela precisa acontecer. Muitos rotarianos não conseguem entender que o jovem é mais prático e gosta de resolver as coisas rapidamente”, diz. “Às vezes, o rotariano tem medo do novo, o que sufoca a possibilidade de novas lideranças surgirem. A gente precisa dar ao jovem a chance de crescer.”

André acredita que, se não tivesse entrado no Interact, seu mundo seria menor agora e ele não teria desenvolvido muitos potenciais. “Conheci cidades, países e tive experiências que eu não sei se teria. É bom olhar para o lado e ver o quanto a gente pode crescer como pessoa e profissional. Tudo que eu tenho hoje vem dessa vivência no Interact e no Rotaract, e  assim como eu tive a chance de mudar o mundo, de mudar o meu próprio mundo, quero despertar essa ideia em outros jovens.”

* Texto: Nuno Virgílio Neto

** Arte: Bruno Silveira

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