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Confira o relato de Artis Henderson, escritora e bolsista do Rotary
Pouco depois de chegar a Dakar, Senegal, como bolsista do Rotary, uma amiga me deu um conselho muito útil: “Compre um anel de casamento”. Eu sabia que uma jovem americana em país muçulmano chamaria a atenção, mas me surpreendi com o conselho.
“Dessa forma, ninguém irá te incomodar”, afirmou minha amiga.
Toquei meu dedo anelar esquerdo e senti o vazio deixado pela aliança que deixei de usar no meu primeiro aniversário de casamento, oito meses após a morte de meu marido, Miles, morto no Iraque em 6 de novembro de 2006. Eu tinha apenas 26 anos.
O primeiro ano sem Miles foi muito difícil. Cada dia representava um novo desafio, mas pouco a pouco comecei a perceber que minha vida tinha que continuar. Pela primeira vez desde sua morte, me perguntei o que eu deveria fazer. A resposta foi me tornar escritora, sonho que o Rotary me ajudou a alcançar.
Primeiro o Rotary me levou a Brittany, França, onde participei de um intercâmbio de um mês com outros jovens profissionais. A experiência me deu a coragem para ir a Nova York fazer mestrado em jornalismo na Columbia University.
Quando voltei, fui incentivada pelos rotarianos a me candidatar a uma bolsa de estudos do Rotary. Eu queria viajar para algum lugar desafiador, longe de casa, e em 2010 fui para o Senegal estudar literatura africana na Université Cheikh Anta Diop.
Em uma tarde escaldante, fui ao centro de Dakar comprar uma aliança de casamento. Encontrei uma joalheria e quando entrei, vi um homem idoso sentado atrás do balcão com os olhos fechados. Quando eu disse que estava procurando por uma aliança de prata, ele pegou um saco de lona e despejou o seu mostruário no balcão.
Ele me perguntou de onde eu era e eu respondi que era dos Estados Unidos.
O homem pôs suas mãos ásperas sobre o balcão e disse: “Então talvez você possa me explicar sobre sua guerra contra o Islã”.
Eu abri minha boca para explicar um conflito que eu não entendia. Eu queria que ele soubesse que meu marido havia sido morto na guerra, mas que esta luta não era contra a fé muçulmana. Mas o dono da loja me olhou com tanto rancor que eu me calei, e saí da loja. Eu cheguei à região durante uma época violenta e agitada, cheia de protestos contra o governo.
Durante meu ano como bolsista, eu recebi a notícia inesperada de que a editora Simon & Schuster aceitou minha proposta de escrever um livro sobre a perda do meu marido. A bolsa de estudos me deu algo que eu nunca havia imaginado: um lugar para escrever sobre a minha perda.
O tempo que passei em Dakar foi um presente. Durante o primeiro mês, vivi com uma família que ajudou minha adaptação à vida na África. Moussa, o filho mais velho que tinha minha idade e também era jornalista, foi meu primeiro amigo em Dakar. No mês seguinte, ele adoeceu e faleceu.
Um mês após o funeral, a família me convidou para jantar. Depois de comermos, eu e a mãe de Moussa nos sentamos em silêncio, de mãos dadas. Apesar de não saber o que é perder um filho, sei bem o que é perder uma pessoa querida. Naquele momento, compreendi que a boa vontade é construída de forma simples e gentil, através do contato entre duas pessoas.
* Por Artis Henderson (Adaptada de uma história de abril de 2014 da revista The Rotarian)
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