Clubes em Ação

Voltar

ACERVO

Voltar

Colunistas

Renascer

abr 1, 2020

No final dos anos 1980, chegou a Belo Horizonte o intercambista Kevin Jones, dos Estados Unidos. Negro e cego, ele vinha destinado à cidade mineira de Luz, no distrito 4760. Nas férias, Kevin passou um curto período em nossa casa e, logo na primeira noite, desapareceu de nossa vista. Ao encontrá-lo no quintal, “conversando” com o cão pastor alemão, advertirmos que ele estava no escuro. Kevin respondeu com naturalidade: “Sou cego. Escuridão para mim não existe”.

Nascido prematuramente, Kevin foi colocado numa incubadora. O equipamento apresentou uma falha e o bebê acabou perdendo a visão. Abandonado pela mãe, foi adotado por uma família que lhe deu o sobrenome e uma extraordinária formação.

O jantar foi servido e, numa conversa informal, perguntamos a ele o que achava da vida. Kevin disse: “A vida é como uma escada: sempre começa no primeiro degrau”.

No Rotary, abril é o Mês da Saúde Materno-Infantil. Para uma criança, o primeiro degrau é o momento em que ela nasce, trazendo o DNA de nunca desistir, seja ela rica ou pobre, saudável ou não – e esta é uma oportunidade de servir. Sentimos um enorme orgulho do Rotary ao visitarmos projetos da Fundação Rotária e constatarmos a qualidade dos serviços prestados pelos rotarianos. Isso promove a retenção, o engajamento e a atração de novos associados.

O serviço é a concretização do ideal do Rotary – e o Brasil vai muito bem. Visitamos excelentes iniciativas na área de saúde materno-infantil, e uma delas nos calou fundo: um projeto de Subsídio Global de tremendo impacto realizado pelo Rotary Club de Foz do Iguaçu-Grande Lago, no Paraná. O projeto recebeu do distrito 4640 o aporte de 10 mil dólares do Fundo Distrital de Utilização Controlada (FDUC), 6.000 dólares do FDUC do distrito 3170 (Índia) e 16 mil dólares do Fundo Mundial.

Ali havia o cenário de uma boa guerra, o primeiro degrau de uma luta pela vida. Ao lado das incubadoras, mães irradiavam esperança. Médicos e enfermeiras eram as pontes para um renascer. Em uma das incubadoras, Fadia, uma pequeníssima criança que nascera pesando um quilo, ainda entubada e monitorada, mexia com os braços chamando pela vida. Era a sobrevivente de trigêmeas. A seu lado, estavam os pais haitianos – refugiados, desempregados e sem falar português. Mas o Rotary estava lá e falava por eles.

No mundo existe muito dinheiro estocado. Nos FDUCs também. Existem países com muito saldo e que desejam emparceiramentos. Os distritos já compreenderam que basta seguir um passo a passo. Em primeiro lugar, é preciso ver se o projeto é elegível para uma das seis áreas de enfoque, submetendo um resumo dele à Fundação Rotária. O segundo passo é ir ao encontro de um parceiro – e o caminho mais curto são as conexões ensejadas pelo Rotary na Assembleia Internacional, nos Rotarianos em Ação, Rotaract (que também pode ser parceiro) e até por meio do programa Intercâmbio de Jovens. O terceiro passo é apresentar o formulário à Fundação Rotária para que ele seja numerado.

O Rotary faz uma grande mudança na vida das pessoas e, principalmente, na nossa vida. Todas as pessoas em ação têm sua história, sempre com um final feliz. Kevin Jones retornou à sua cidade, no Estado de Milwaukee, e nos ligou emocionado. “A melhor coisa da minha vida foi ter passado um ano no Brasil”, disse. “Decidi manter o sobrenome dos meus pais adotivos e incluir no meio o nome Renato, uma palavra de origem latina que significa renascido.”

A Fundação Rotária previne a morte com sua campanha para erradicar mundialmente a poliomielite. E também faz renascer a esperança em mães e crianças com milhares de projetos de Subsídio Global.

* O autor é Hipólito Ferreira, curador 2019-23 da Fundação Rotária.

hipolito@paineira.eng.br

Share This