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Perguntas para reflexão

fev 1, 2019

É inexorável que, em plena Assembleia Internacional em San Diego, aqui nos Estados Unidos, em 16 de janeiro, algumas reflexões sobre nossa organização martelem meus pensamentos. Diante de quase 200 bandeiras diferentes, meia centena de línguas e dialetos, vestimentas hipercoloridas, matizes de pele, rostos e feições espelhando a rica diversidade humana, paira um enigma: como essa instituição pode funcionar com tanta diversidade?

Mais desafiador: além da diversidade, que é um dos cinco valores da instituição (os demais são integridade, serviço, liderança e companheirismo), como gerir uma empresa que troca sua administração anualmente? A Apple resistiria a uma rotatividade dessa magnitude, a despeito do seu portfólio de produtos e sua aclamada capacidade de inovação?

Mais intrigante: como gerenciar voluntários indemissíveis, que têm extrema boa vontade, mas, às vezes, estão despreparados para as funções? Material humano da melhor qualidade em suas respectivas áreas profissionais, mas com habilidades não necessariamente aproveitáveis aos propósitos de um clube específico.

Mais problemático: como elaborar temas que inspirem, façam sonhar, promovam engajamento, movimentem 1,2 milhão de corações, mãos e mentes com um novo enfoque a cada 12 meses? Você quer ser a inspiração, como o presidente Barry Rassin sugere, ou conectar o mundo, como propõe o próximo presidente, Mark Daniel Maloney?

Mais complexo: como manter voluntários e profissionais contratados trabalhando em harmonia, na mesma direção e com os mesmos objetivos, tudo sob rígido controle orçamentário? Com um processo decisório que, apesar de ser democrático e transparente, frequentemente peca pela lentidão e influência política?

Mais paradoxal: como atender a micro demandas de um clube no sertão do Brasil e, simultaneamente, manter o programa corporativo de saúde mais ambicioso da história, a erradicação mundial da poliomielite, em que já foram investidos 15 bilhões de dólares? Como manter o foco, e desapontar sonhadores bem intencionados, ou ampliar o foco, e perder estatura institucional?

Mais ambicioso: como alavancar 114 anos de história de realizações, um rol de associados que incluiu astronautas, presidentes, prêmios Nobel, e que agora se depara com uma geração que se conecta com o mundo, mas não com o vizinho?

Mais amedrontador: como desafiar o tempo que envelhece pessoas, empresas e governos, e permanecer relevante para o futuro?

Esses desafios já poderiam ter aniquilado o Rotary. Mas sobrevivemos, evoluímos, nos adaptamos e cá estamos. Não tenho respostas para essas reflexões, mas me parece que nossa história ainda terá muitos capítulos.

* O autor é Mário César de Camargo, curador 2015-19 da Fundação Rotária.

Para fazer comentários e sugestões sobre esta coluna, escreva para mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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