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Para onde vamos?

mai 3, 2019

Estou no meio da reunião do Conselho Diretor do Rotary, na sede da organização, em Evanston, EUA. No 18º andar, a sala do Conselho Diretor 2018-19 reúne 17 diretores do mundo todo, o presidente eleito Mark Maloney e o atual presidente Barry Rassin. A agenda é a definição dos próximos passos da instituição. Hoje é 10 de abril de 2019, e o tópico parece ser o mesmo de 20 anos atrás: para onde vamos?

A revista Fortune daquela época publicou um artigo sobre o que ela chamava “o Cadillac das instituições”, e os desafios que se apresentavam. Uma digressão histórica apontaria a mudança do perfil do rotariano, por razões históricas, econômicas, sociais, políticas e comportamentais.

Se o Rotary é “um corte longitudinal da sociedade”, e a sociedade atual pouco tem a ver com a dos anos 1920 em Chicago, parece óbvio que a organização mudou. Se bem me recordo do artigo, e já se vão 20 anos desde a leitura, no Rotary não havia mais banqueiros, porque o número de bancos se reduzira drasticamente em decorrência de fusões. Tampouco havia tantos donos de empresa, pois muitas atividades econômicas pereceram, enquanto outras floresceram. Profissões novas nasceram, e eram representadas nos clubes. Mulheres foram finalmente admitidas, depois de anos de cegueira obtusa. Perderam-se clubes de grandes centros, que diminuíram de tamanho.

Por outro lado, ocorreu o crescimento exponencial da Fundação Rotária, braço humanitário do Rotary e gestora do principal programa, a erradicação mundial da poliomielite. De meros 26,50 dólares em 1917 (pouco mais de 500 dólares hoje), ela transformou-se em um gigante de 1,2 bilhão de dólares de patrimônio e orçamento anual de 400 milhões de dólares, gerenciando projetos de envergadura global, obtendo sucessivos prêmios de gestão por eficiência e transparência, democratizando programas nas seis áreas de enfoque e aproximando o mundo pelo emparceiramento dos clubes nos projetos de Subsídios Globais.

Mas nem o crescimento dos projetos da Fundação redundou em maior número de associados, desde 1995 estacionado em 1,2 milhão. Como nos descolarmos desse número?

Os diretores apostam na inovação, no potencial de atração que o Rotary ainda mantém sobre os jovens, no crescente engajamento das mulheres, no crescimento na Ásia e no Leste Europeu. Para provar: há mais de 9.500 clubes de Rotaract no mundo, com mais de 150 mil rotaractianos; o Programa de Intercâmbio de Jovens movimenta quase 9.000 estudantes pelo globo todo ano; as mulheres já representam 23% do nosso quadro associativo. Como ajustar essa população que aprecia nossos valores, mas não quer o modelo de clube tradicional?

O desafio é atrair uma geração conectada, com espírito voluntário tão ou mais aguçado do que as anteriores, mas pouco encantada pelo modelo tradicional de clube do Rotary. Esses 35 mil clubes continuarão a existir, e a ser nosso principal emblema, mas o Rotary, principalmente em áreas de diminuição do quadro associativo (como o Brasil, que perdeu quase 10% dos associados desde 2012-13), terá de acenar com modelos alternativos de clubes. Satélites, corporativos, baseados em causas, E-Clubs, Rotaract, enfim, teremos de explorar caminhos, flexibilizar regras de frequência, aumentar nossa exposição pública, melhorar o impacto de nossos projetos.

Como curador, vejo que a Fundação pode ser uma ferramenta extremamente poderosa na captação de associados. Clubes fortes e sustentáveis são os que pensam grande e envolvem seus associados em projetos permanentes, desafiadores, de escala.

Se, por um lado, o Rotary tem o desafio histórico de se descolar da marca de 1,2 milhão de associados, por outro, tem oportunidades gigantescas para continuar crescendo em influência e serviço à comunidade. Desafios importantes nunca afugentaram rotarianos, que ajudaram a fundar a ONU em 1946 e a pavimentar a paz na Guerra do Chaco entre Paraguai e Bolívia. Nosso passado é nosso orgulho, mas nossos olhos estão no futuro.

* O autor é Mário César de Camargo, curador 2015-19 da Fundação Rotária.

Para fazer comentários e sugestões sobre esta coluna, escreva para mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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