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Os 150 anos de Paul Harris

abr 19, 2018

Em 19 de abril de 1868, nascia o homem que criou o Rotary

“No que depender de mim, prefiro viver de pão e água, mas ter pão e água em quantidade suficiente para dividir com toda a humanidade, do que ter à minha frente as criações dos chefs de centenas de Waldorf Astorias e ter de saboreá-las sozinho, encerrado no meu próprio egoísmo.” – Paul Harris

Paul Harris 04Podemos dizer que foi num domingo, há exatos 150 anos, que a poliomielite teve seu destino traçado. Em 19 de abril de 1868 nasceu o criador da organização que decretou a erradicação da doença. Naquele dia veio ao mundo Paul Percy Harris, o fundador do Rotary.

Segundo filho do casal George e Cornelia Harris, Paul vivia em Racine, uma pequena cidade do Estado de Wisconsin, nos EUA, a cerca de cem quilômetros ao norte de Chicago. Cornelia viu a mãe, Clarissa, criar os filhos praticamente por conta própria depois de o marido, Henry Bryan, vender tudo o que tinha e partir sozinho para a Califórnia, por volta de 1849, em busca de ouro. Isto provavelmente a preparou para a vida árdua que a esperava junto a George Harris, seu marido e pai de Paul, com quem se casaria em 12 de maio de 1864.

Formado em farmácia e sem nenhuma queda para os negócios, George Harris tornou-se sócio de um cunhado em um estabelecimento comercial em Racine, no ano de 1865. Dentro de apenas três anos, e um mês depois do nascimento de Paul, o negócio foi à falência. George passou a trabalhar em vários e pequenos empregos que se sucediam, enquanto Cornelia dava aulas de piano para reforçar o orçamento. Além disso, eventualmente George recebia cheques vindos de seu pai para ajudar nas despesas.

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Filme da vida: Paul aos três anos de idade; como jovem cadete na Academia Militar de Vermont; e aos 28 anos, logo depois de dar início à carreira de advogado em Chicago

Convívio com os avós

Em 1871, a família Harris já contava com três filhos. Além de Paul, havia ainda seu irmão mais velho, Cecil, nascido em agosto de 1866; e Nina May, nascida em maio de 1870. Nem a ajuda que vinha do pai de George era mais suficiente para manter as contas em dia. Foi quando George decidiu que era hora de tentar a vida perto da cidade natal, Wallingford, onde ainda moravam seus pais, Howard e Pamela Harris. Foi assim que, em julho daquele ano, George, Cecil e Paul iniciaram uma viagem de quase 2.000 quilômetros. Partindo de trem de Racine, com destino a Milwaukee, a 40 quilômetros de distância, embarcaram num vapor com destino a Buffalo, no Estado de Nova York, e dali seguiram de trem até Wallingford.

Naquele momento, iniciava-se uma nova vida para Paul. Embora mais tarde seus pais se mudassem para uma cidade vizinha, ele nunca mais conseguiu morar com eles, acostumado que estava com a vida livre que levava junto aos avós. E foi certamente a lembrança dessa vida familiar e tranquila na pacata vila de Wallingford que lhe veio à mente quando, já adulto, na Chicago de 1900, passeando por seu bairro depois de jantar na casa do advogado e amigo “Bob” Frank, viu-o cumprimentar amigável e calorosamente os comerciantes da redondeza.

Antes de fincar as raízes em Chicago, muita coisa aconteceu na vida do jovem Paul Harris. É provável que a relativa liberdade que levava morando com os avós (amorosos, porém condescendentes) o tenha levado a crescer como uma criança hiperativa. Expulso de duas ou três escolas, inclusive de uma faculdade, só “tomou juízo” após a morte do avô, em maio de 1888.

 

Faculdade e aventuras

De volta a Wallingford, resolveu não retomar os estudos de direito em Princeton. Durante cerca de um ano e meio teve alguns empregos, chegando inclusive a tentar a carreira militar. Finalmente, após longas conversas com a avó Pamela, decidiu em 1890 ingressar na Universidade Estadual de Iowa, onde sua fama de criador de problemas não era conhecida, permitindo-o concentrar-se nos estudos e terminar seu curso de direito.

Em junho de 1981, durante as cerimônias de formatura, estiveram presentes alguns ex-alunos que deram testemunhos sobre sua vida profissional. Veio de um deles, Adelbert Hudson, que fez uma palestra motivacional, o comentário que o levaria a adiar por cinco anos o início da vida profissional. Disse Adelbert que seria bom que cada formando vivesse uma vida simples por cinco anos antes de iniciar a vida profissional.

A declaração ia bem ao encontro do desejo de Paul de sair pelo mundo para conhecer melhor lugares e pessoas, e o encorajou a passar os cinco anos seguintes viajando e aceitando qualquer tipo de emprego até fixar residência em Chicago no início de 1896. Isto não significou, porém, lançar âncoras e iniciar um período de sossego. Periodicamente mudava de bairro, frequentava igrejas e cultos de diferentes religiões e logo tornou-se tão familiarizado com a cidade que se gabava de ser o melhor conhecedor da vida boêmia de Chicago.

À medida que melhorava sua condição financeira, aumentavam seus compromissos sociais. Tornou-se membro da Associação da Imprensa e da Associação dos Advogados, e nos fins de semana juntava-se a um grupo de amantes da natureza para passear pelos campos dos subúrbios da cidade. Foi em um destes passeios que Paul conheceu Jean, em 1910, com quem se casaria apenas três meses depois.

 

O grande legado

A fundação do Rotary Club de Chicago em 1905 veio certamente preencher a necessidade de convívio num círculo de amigos mais íntimos, que pudessem se chamar pelo primeiro nome. Em 1907, Paul tornou-se presidente do clube e, em 1910, da Associação Nacional de Rotary Clubs. Em 1912, a Associação tornou-se internacional e um novo presidente foi eleito. Paul Harris recebeu o título de presidente emérito, mas se afastou da organização, talvez em virtude de grave problema de saúde, talvez porque estivesse iniciando sua vida familiar, tendo acabado de adquirir a casa onde moraria com Jean ao longo de todos os anos seguintes.

Paul voltou a frequentar a sede do Rotary após a Primeira Guerra Mundial, levado pela insistência do secretário da organização, Ches Perry, que havia montado para ele uma sala onde pudesse dispor da estrutura necessária para responder à farta correspondência que recebia. Mas Paul permaneceu afastado da administração do Rotary. Frequentava apenas seu próprio clube e atendia alguns convites. Escrevia um artigo anual para a edição de fevereiro da revista The Rotarian, mês de aniversário da organização, e apenas enviava uma mensagem para ser lida nas Convenções Internacionais.

A partir de 1928, a convite do Rotary International, Paul começou uma série de viagens para visitar Rotary Clubs em todo o mundo. Foi à Europa em 1928 e 1932, à Grã-Bretanha e à África do Sul em 1934, à Ásia em 1935 e à América do Sul (incluindo o Brasil) em 1936. Foi recebido por reis e presidentes, e por onde passava deixava plantadas suas árvores da amizade, símbolo da boa vontade entre os povos.

Ao partir da vida num frio dia de inverno, pouco antes de completar 79 anos, Paul Harris nos deixou um legado inigualável. Seu desejo de compreensão e paz entre todas as nações e povos da Terra continua vivo entre nós, assim como seus ideais.

* O autor é Eduardo Muniz Werneck, governador 2010-11 do distrito 4670, associado ao Rotary Club de São Leopoldo-Leste, RS (distrito 4670), e organizador do livro 1936 – O ano em que o Brasil conheceu Paul Percy Harris, que pode ser adquirido pelo e-mail cdpi@revistarotarybrasil.com.br

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