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Até o último round

fev 1, 2016

01jpgRotary tem oportunidade histórica de ajudar o país a derrotar o Aedes aegypti

Com a epidemia de microcefalia que tem o zika vírus como principal suspeito e 1,6 milhão de casos de dengue em 2015 (um recorde), o Brasil segue assustado com os estragos causados pelo Aedes aegypti. Se o atual embate entre nós e o mosquito fosse uma luta de boxe, veríamos uma população inteira acuada no canto do ringue.

É hora de reagirmos e virarmos essa luta. Para que isso aconteça, somente a necessária e esperada resposta do poder público não será suficiente. Cerca de 90% dos criadouros do Aedes aegypti estão em nossas próprias casas. Para combatê-los, precisamos nos mobilizar, agir em conjunto. Algo que o Rotary sabe fazer muito bem, como se vê no trabalho de erradicação mundial da poliomielite.

Na reportagem de capa da edição de fevereiro de 2016 mostramos como você e seus companheiros podem subir nesse ringue. As histórias que você lerá vêm de clubes que já colocaram as luvas e partiram para o combate. Contamos com sua força até o último round.

Como o seu clube pode lutar?

Informação é a melhor estratégia

O Paraná nunca tinha visto nenhum de seus municípios da região leste e do litoral do Estado figurarem em estatísticas de epidemia de dengue. Este ano, a cidade de Paranaguá, a maior da região litorânea, infelizmente, quebrou o ineditismo. Desde agosto de 2015 até o início de janeiro, foram confirmados 491 casos da doença, segundo dados divulgados pela secretaria estadual de Saúde. O Rotary Club de Paranaguá-Taguaré, no distrito 4730, sentiu o problema na pele. “Já temos casos com companheiras do clube e de muitos familiares nossos”, conta a presidente 2014-15 Jamile Hamud.

A escalada da dengue no município foi a deixa para o clube entrar na luta contra o mosquito, e as associadas escolheram a informação como estratégia. “Achamos por bem realizar um alerta à população por meio de outdoors, por acharmos que a mensagem impacta”, explica Jamile. O layout da campanha foi elaborado antes mesmo de o município confirmar a epidemia, mas em função do recesso de fim de ano, as peças só puderam ser instaladas depois que a situação já havia se agravado. “Nem inserimos as logos do clube ou dos patrocinadores para que o foco de alerta sobre a dengue não se perca. Apenas colocamos os nomes”, diz Jamile. A campanha começou com quatro outdoors, mas outros estão a caminho para dar continuidade ao alerta. As rotarianas têm atuado como multiplicadoras também em seus locais de trabalho, distribuindo fôlderes dos órgãos de saúde.

Há cerca de dois anos, o Rotary Club de Taubaté-União, no distrito 4600, também abraçou a causa do combate ao Aedes aegypti. “É um projeto que não custa valores para o clube, custa empenho, e o Rotary tem influência na sociedade”, analisa o presidente 2014-15 Nivaldo André Zollner. No município do interior do Estado de São Paulo, o clube fez da campanha da prefeitura um projeto permanente. “Toda vez que a Vigilância Sanitária sai às ruas para alertar a população, estamos juntos, nas praças, semáforos e calçadões, entregando panfletos sobre a dengue e explicando sobre os riscos trazidos pela água parada”, conta Marco Antonio Telmo Cabral, diretor de protocolo do clube.

Dê cobertura às secretarias de Saúde

Além de se apresentarem como voluntários nas campanhas da prefeitura, vestindo coletes com a logo da nossa organização para ajudar a panfletar, os associados ao Rotary Club de Taubaté-União não perdem uma chance de levar informação à comunidade. “Ajudamos na divulgação permanente. Colocamos cartazes atualizados na Casa da Amizade”, exemplifica o ex-presidente Zollner.

Esse apoio sistemático, informando a população e mobilizando a sociedade, é uma das melhores maneiras de os clubes do Rotary apoiarem o trabalho das secretarias de Saúde no combate ao Aedes aegypti. “A prestação de serviço é uma arma do Rotary, pelo peso do seu nome, pelas pessoas envolvidas, o que faz com que a informação seja divulgada de forma eficiente”, considera a coordenadora da Vigilância Sanitária de Taubaté, Maria Stella Zollner.

A coordenadora do setor de Controle de Animais Sinantrópicos da Vigilância Epidemiológica do município, Daniela Bittencourt, destaca que a mobilização social, tão inerente ao Rotary, tem tudo a ver com o fundamental trabalho de prevenção, para que os perigos representados pelo mosquito não caiam no esquecimento. “A vantagem de se estabelecer parcerias com o serviço público é direcionar as ações para onde são mais necessárias, evitando a duplicação do trabalho ou a ausência de cobertura onde se poderia ajudar”, alerta Daniela.

Crotalária: uma aliada

No ringue contra o Aedes aegypti, nós contamos com uma aliada poderosa: a libélula. Criadas nos mesmos locais que os mosquitos, as larvas da libélula têm um apetite insaciável, comendo tudo ao seu redor – inclusive as larvas desse vilão, que segue no cardápio de nossa amiga quando ambos ficam adultos.

Para atrair a libélula, há uma planta chamada crotalária, estrela das ações de alguns clubes do país, como o Rotaract Universitário de Medianeira, PR (distrito 4640), que pela segunda vez está distribuindo sementes da planta e instruções de cultivo à população. A crotalária tem um crescimento rápido e sua melhor época de plantio é em meados de outubro, para que possa estar em floração no verão, estação com maior índice de infestação do mosquito.

“Começamos o projeto em apenas um dos bairros da cidade. Como ele foi bem aceito pela população, nesta segunda ocasião ampliamos a ação para um conjunto de bairros. O objetivo agora é expandi-lo para toda a cidade”, conta à revista Yuri Loyo Paruche, associado ao clube.

O mesmo vem sendo feito pelo Rotaract Club de Quatá, SP (distrito 4510). O projeto Operação Quatá contra a Dengue é feito ao lado de parceiros como a ONG Salvar e a Rádio Ônix FM. Os pacotes com as sementes e um folheto explicativo começaram a ser distribuídos na cidade em dezembro. “Os rotaractianos ajudaram entregando as sementes para os trabalhadores e frequentadores do comércio”, explica a presidente doclube, Caroline Ferraz.

No Rotary Club de Água Clara, MS (distrito 4470), a ideia foi levada por um associado que visitou outro município onde a crotalária deu certo. Na distribuição gratuita de sementes à população, os rotarianos contaram com a ajuda da Associação de Senhoras de Rotarianos, do Interact e da Secretaria Municipal de Saúde. “A princípio foram impressos 5.000 envelopes, com informações sobre a finalidade do projeto, forma e época ideal para o cultivo”, diz o associado Alberto Ferreira. “Passados mais ou menos 90 dias do início do projeto, já é possível notar as plantas floridas em residências, praças, canteiros centrais de avenidas, escolas e estabelecimentos comerciais.”

De casa em casa, convocando todos para a batalha

A melhor estratégia para deter o Aedes aegypti e as doenças que ele provoca é não deixá-lo nascer. Alguns levantamentos mostram que cerca de 90% dos focos do mosquito estão em nossas próprias casas (leia a entrevista na página 34). Por isso, o governo federal convocou um esforço nacional para que todos os domicílios do país sejam visitados para a eliminação dos criadouros.

Nessas visitas, os agentes de saúde desenvolvem ações com os moradores para evitar o depósito de água em vasos de plantas, garrafas, pneus, calhas e outros locais que representem riscos. Desde dezembro, os 266 mil agentes comunitários de saúde uniram-se aos 46 mil agentes de combate às endemias e a 1.837 militares das Forças Armadas para desenvolver o trabalho. Seu Rotary Club também pode fazer parte dessa caravana, assim como o Interact Club de Saltinho, SP (distrito 4310), e o Interact Club de Sorocaba-Novos Tempos, SP (distrito 4620), que trabalham voluntariamente ao lado das prefeituras de suas cidades. Os interactianos vão de casa em casa fiscalizando quintais e outros locais com acúmulo de água. O objetivo final é despertar nos moradores uma consciência maior para evitar riscos.

O Ministério da Saúde até sugere um dia para se fazer o trabalho: o sábado, alvo da campanha Sábado da Faxina: não dê folga para o mosquito da dengue. A ideia é que toda a população dedique um dia da semana para verificar todos os possíveis focos do mosquito.

As lições que podemos tirar do combate à pólio

Médico infectologista do Instituto Emílio Ribas e associado ao Rotary Club de São Paulo-Aeroporto, SP (distrito 4420), Leonardo Weissmann conversou com a Rotary Brasil sobre o papel que os rotarianos podem assumir na guerra contra o Aedes aegypti

O país segue assustado com a epidemia de microcefalia decorrente do zika vírus. Quais são as suas perspectivas para essa situação ao longo de 2016?

 A perspectiva neste momento não é nada otimista. A complexidade do controle do mosquito e da transmissão do vírus vai muito além de medidas pontuais. É impossível, em curto prazo, a erradicação do Aedes, mas é possível evitar o nascimento de novos mosquitos e, consequentemente, o avanço da doença, eliminando-se criadouros.

Muitos Rotary Clubs já entraram na luta contra o mosquito. Que impacto as ações dos rotarianos têm nessa guerra?

 É importantíssima a participação dos rotarianos no processo de mobilização e conscientização da sociedade, mostrando que é papel de todo cidadão atuar no combate ao Aedes aegypti, e não somente do poder público. Afinal, estima-se que no Brasil cerca de 90% dos focos do mosquito encontram-se nas residências.

Além das ações que apresentamos nesta reportagem, o senhor sugeriria alguma outra que os clubes poderiam adotar?

 Sugiro a realização de campanhas educacionais contínuas para a população em geral, não somente no ensino escolar, e não somente no verão, alertando sobre os riscos da proliferação do mosquito e ensinando como evitar focos. O combate ao mosquito é função de todos os cidadãos!

Os rotarianos ajudaram o mundo a reduzir a incidência de pólio em mais de 99%, e não apenas com a doação de mais de 1 bilhão de dólares à Iniciativa Global de Erradicação da Pólio, mas também com sua mobilização voluntária, trabalhando ao lado de governos na organização de Dias Nacionais de Vacinação e conscientizando as famílias sobre a importância da vacina. O que podemos aproveitar dessa experiência para combater o Aedes aegypti aqui no Brasil?

 Estamos diante de um sério problema de saúde pública que tem tudo para marcar uma geração, da mesma forma que foi com a poliomielite. Para o controle da situação, são necessárias atuação do poder público e participação comunitária. Não há regiões de conflitos ou guerras no Brasil, mas temos áreas de extrema pobreza, sem projetos de urbanização, com crescimento desorganizado.

O combate ao Aedes aegypti não acontecerá em curto prazo. É preciso conscientização e atuação nas áreas mais críticas. Com a mobilização voluntária e contribuições financeiras, desde o início da campanha para a erradicação da poliomielite até agora o número de casos da doença em todo o mundo caiu 99,9%. Este é um exemplo de sucesso e pode ser um caminho a ser seguido para acabarmos com o Aedes aegypti.

Um lutador solitário em Três Lagoas

Terceira cidade mais populosa de Mato Grosso do Sul, Três Lagoas começou o ano em estado de alerta ante a possibilidade de enfrentar uma nova epidemia de dengue. De acordo com um levantamento do Ministério da Saúde, 4,4% das residências do município possuem focos de larva do Aedes aegypti – índice quatro vezes superior ao considerado aceitável. Com esperança de afastar esse risco, um morador teve a ideia: incentivar a população a cultivar citronela em suas casas.

Com recursos próprios, Francisco Leandro de Souza – ou Xykão, como é conhecido em Três Lagoas – adquiriu 300 mudas da planta para distribuí-las gratuitamente à população – o aroma da citronela tem o poder de afastar o mosquito. “Contei com o apoio de um material explicativo, e então escolhi um bairro com bastante exposição à água parada, para servir como laboratório”, comentou Xykão, que é integrante do Rotaract Club de Três Lagoas.

A iniciativa, totalmente idealizada e executada por ele, teve grande aceitação popular. “Onde me veem, as pessoas perguntam: ‘Você não é o rapaz da citronela? Pode me dar uma?’”, conta Xykão, que segue distribuindo as mudas da planta restantes, e tenta conseguir apoio para expandir o projeto.

Para Colégio de Diretores, guerra ao mosquito deve ser prioridade nos clubes

O combate ao Aedes aegypti deve ser uma prioridade do rotariano brasileiro este ano. Este é o desejo do diretor José Ubiracy e do Colégio de Diretores Brasileiros do Rotary International, conforme a Rotary Brasil antecipou em janeiro (leia também a página 19 da atual edição).

Depois de ter sido assunto na reunião do Colégio no final de 2015, a guerra contra o mosquito voltará a ser pauta do encontro que José Ubiracy marcou com os governadores de distrito do país nos dias 15 e 16 de fevereiro, em São Paulo.

Ele planeja lançar um programa nacional de combate ao Aedes aegypti. Está prevista inclusive a compra de coletes com a marca do Rotary para distribuir aos rotarianos durante as ações, assim como tradicionalmente acontece nos dias de vacinação contra a pólio.

Revista também está nessa campanha

A Rotary Brasil entrou no ringue contra o mosquito. Se o seu clube também arregaçou as mangas contra o Aedes aegypti, envie sua história para o nosso e-mail jornalismo@revistarotarybrasil.com.br. Ela poderá fazer parte das nossas reportagens e inspirar outros clubes a seguir seu exemplo.

Além disso, não perca a cobertura que estamos dando ao assunto em nossos canais na internet:

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* Texto: Nuno Virgílio Neto e Renata Coré

** Arte: Armando Santos

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