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O Brazilian ou South American Storm no surfe vale para o Rotary?

jan 6, 2021

Sintonize o canal de esportes radicais Off e você conhecerá o Brazilian Storm: o grupo de surfistas contemporâneos brasileiros que tomou o surfe profissional de assalto, produzindo campeões mundiais e quebrando a hegemonia americana e havaiana (sim, no surfe o Havaí é país independente).

Poderíamos replicar o South American Storm no Rotary?

Estou a seis meses do fim da gestão de seis anos (quatro como curador da Fundação Rotária, dois como diretor do Rotary International). Nesses 66 meses, detectei um pequeníssimo número de integrantes brasileiros e sul-americanos nos comitês decisórios do Rotary e da Fundação Rotária. A morte prematura do curador Hipólito Ferreira, por Covid-19, em meados de novembro, me fez aprofundar a reflexão sobre os espaços ocupados por nosso continente.

As posições de direção no Rotary International e na Fundação Rotária somam mais de 200, considerando alguns comitês provisórios, permanentes e cargos de diretores e curadores. Não considerei para análise os cargos zonais, privativos dos nativos, como coordenadores regionais da Fundação Rotária, do Rotary e da Imagem Pública, consultores de Doações Extraordinárias/Fundo de Dotação, Polio Plus, Desenvolvimento do Quadro Associativo.

A América do Sul tem seis representantes nos comitês mundiais do Rotary e da Fundação, traduzindo pouco menos de 3% dos quadros. Vale lembrar que somos 74 mil rotarianos nas Zonas Rotárias 23 e 24, ou seja, aproximadamente 6% do quadro de associados mundial. Em comparação, os Estados Unidos, com um quarto da população rotária mundial, retêm mais de 35% das posições em comitês.

Como preposto da região no Conselho Diretor, uma das minhas preocupações estratégicas é, justamente, aumentar o efetivo humano representativo da cultura sul-americana nos comitês do Rotary e da Fundação Rotária. Mas, na indicação, confesso por vezes minha ignorância a respeito dos talentos zonais para ocupar postos na direção. Proponho um caminho de qualificação para o futuro:

1 – Um levantamento dos talentos zonais, com desempenho, metas atingidas, programas e projetos realizados, analisados sob a ótica dos interesses do Rotary. Quadro associativo, captação para a Fundação, imagem pública dos projetos. Dados objetivos, resultados permanentes (não vale restringir ao ano de governadoria, ou presidência de clube; também o legado e a contribuição ao sucessor devem entrar no mapa);

2 – Um programa de qualificação. Necessariamente entram dados subjetivos nessa fase, como proficiência de língua, disponibilidade no momento da assunção da tarefa, trânsito entre os companheiros, capacidade de seguimento de programas e aglutinação de voluntários (não vale o cowboy solitário, herói que não trabalha em equipe, egocêntrico). Líderes futuros devem ter mentores, capacitação, atualização de informações da sede, participação nos eventos e seminários de treinamento;

3 – Promoção das lideranças emergentes, mitigando o caráter político das disputas por cargos, permitindo a ascensão de mais líderes, diversificando e desconcentrando as indicações. É tarefa hercúlea, fatia considerável dos resultados advém do brilho do protagonismo, da autopromoção, é inexorável o embate temporal, em determinadas circunstâncias. Mas a conexão rotária deve prevalecer. Todos somos líderes, e o ambiente democrático do Rotary permite propostas divergentes, não necessariamente beligerantes. Tolerância e rotatividade são cláusulas pétreas da constituição rotária.

No meu sonho de consumo rotário, teríamos dez ou 12 posições ocupadas por sul-americanos no Rotary International e na Fundação Rotária nos próximos cinco anos. O Rotary inseriu diversidade nos seus valores, e a cultural é uma faceta da diversidade. O fato é: a América do Sul está sub-representada no Rotary. Mas a ocupação do espaço, no Rotary moderno, passará por estratégia, qualificação e apresentação de resultados. A começar pelo crescimento do quadro associativo e da arrecadação para a Fundação, cujos promotores serão os futuros líderes em nosso continente.

Quem sabe não teríamos um South American Storm no Rotary?

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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