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Instituto virtual: futuro do Rotary?

out 1, 2020

“Eu nunca penso no futuro. Ele não tarda a chegar.” – Albert Einstein

Os efeitos da pandemia no Rotary ainda serão objeto de análises e estudos. O momento corrente é tão esfumaçado e nebuloso quanto as queimadas pantaneiras, considerando-se os eventos recentes.

A pandemia atropelou o Instituto Rotary do Brasil presencial, limitado aos governadores. Por outro lado, ao migrar para o ambiente virtual, abriu oportunidades para a participação do mundo do Rotary em nosso país, formado por mais de 52 mil voluntários. E de forma gratuita, por óbvio, como parece ser expressiva parcela das iniciativas digitais.

O chair Valdomiro Oliveira Junior, o cochair Henrique Trindade e eu estávamos apreensivos. Nunca antes na história do Rotary (opa: essa frase saiu sem querer, mas é verdadeira) havíamos estruturado um Instituto virtual. Mas a transformação, que tomaria cinco anos, nos concedeu cinco meses. Com um detalhe: orçamento zero, quando um Instituto custa entre 500 mil e 1 milhão de reais.

O evento começou no dia 11 de setembro e terminou no dia 13. O balanço? Interessante quiçá seria a melhor sensação. Vamos à contabilidade dos pontos negativos e positivos.

Conteúdo: superior em termos de (re)conhecimento rotário. Vários atores de sucesso tiveram palco, como campeões de desenvolvimento do quadro associativo, de captação para a Fundação Rotária e novos modelos de clubes. Pela primeira vez, incorporamos o Rotaract e o Interact ao programa oficial e contamos com três presidentes internacionais: o atual, Holger Knaack; o eleito, Shekhar Mehta; e Jennifer Jones, a escolhida para presidir o Rotary em 2022-23. Tivemos o seminário Mulher em Rotary, com participação de Sylvia Whitlock, primeira presidente de clube na história de nossa organização, e sessões dedicadas ao Instituto de Liderança Rotária; aos Núcleos Rotary de Desenvolvimento Comunitário; à Academia Brasileira Rotária de Letras; à revista Rotary Brasil; às Obras Sociais Irmã Dulce; ao Intercâmbio de Jovens; à Associação Brasileira da The Rotary Foundation (ABTRF); à erradicação da pólio, com a presença de Ann Lee Hussey, ex-governadora de distrito do Maine, nos Estados Unidos, e vítima da doença; além de depoimentos emocionantes de ex-intercambistas e famílias hospedeiras cujas vidas mudaram com essa experiência. Perdemos em termos de atração externa, celebridades, políticos ou líderes profissionais.

Custo: sem comentários, nada bate custo zero.

Pontualidade: imbatível. Com vídeos pré-gravados e controle rígido de tempo pelo Zoom, as sessões terminaram no horário. Quando excediam, o tempo era compensado no bloco posterior. Uma lição para o Instituto presencial em Salvador, no ano que vem.

Audiência: os Institutos presenciais no Brasil são dos maiores do mundo, com 1.500 participantes (Índia e Filipinas nos superam, com mais de 2.000). Nesse Instituto virtual, segundo relatório do YouTube, contabilizamos 5.725 inscritos e 2.600 visualizações nas plenárias [os números correspondem ao dia 14 de setembro], acrescidos da turma de controle no Zoom. Creio que o objetivo de expandir o horizonte além dos governadores foi alcançado. Em vários depoimentos, rotarianos cujos conhecimentos limitavam-se às conferências distritais confessaram interesse em adquirir aprendizado comparecendo ao próximo Instituto presencial. Efeito positivo: o de criar demanda por informação. De negativo, naturalmente, a falta do aperto de mão, a fofoca no café e no bar do hotel, o abraço afetuoso na chegada, a saudade que só o olho no olho supre. Rotariano precisa disso.

Feito inusitado: desde o meu primeiro Instituto, em Brasília, no ano de 1998, não me recordo de ter participado de outro com foco em captação de recursos para a Fundação Rotária. Mas, fato inédito, um desafio lançado pelo coordenador regional da Fundação Rotária Hiroshi Shimuta, de conceder pontos para a outorga de títulos Companheiro Paul Harris, secundado por Marcos Franco, da ABTRF, almejava arrecadar 60 mil dólares. Em seguida, escalou o repto, no que foi bancado pelo governador Watson Travassos, com 50 mil dólares, seguido pelo membro da Sociedade Arch Klumph Oswaldo Takata, com 30 mil dólares, e pela ex-governadora Maria Vital, com 10 mil dólares. Resumo da ópera: 240 mil dólares arrecadados no Instituto para a Fundação Rotária. Uma evidência de que, mesmo em tempos de crise, oportunidades incríveis são geradas por rotarianos com espírito de Dar de Si Antes de Pensar em Si.

Conclusão? O futuro é híbrido, com o presencial e o virtual correndo concomitantemente. A expectativa é mesclar os pontos positivos de um ambiente aos do outro. Onde havia uma ameaça, o Rotary prova mais uma vez que abre oportunidades pela conexão com o mundo. Não pensamos no futuro: ele já está entre nós.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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