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Ficaremos no jogo até o fim

jun 13, 2017

Um questionamento razoável diz respeito aos investimentos necessários para zerar a ocorrência da pólio no planeta. São precisos sete bilhões de dólares, sendo que atualmente 5,76 bilhões de dólares estão comprometidos. Ouço argumentos ponderados como “quanto dinheiro para apenas 26 casos no mundo desde janeiro de 2016”, “estamos exauridos de gastar dinheiro com pólio” ou “é difícil convencer os clubes a doarem quando no Brasil não há casos desde o final dos anos 1980”.

Como apontei no artigo publicado na edição de julho, o governador distrital e médico infectologista John Sever aconselhou o presidente 1978-79 do Rotary International, Clem Renouf, a empreender a batalha pela erradicação da pólio, para transformá-la na segunda doença a ser eliminada do planeta, após a varíola. Previa-se gastar 100 milhões de dólares na empreitada. Quatorze bilhões e 300 milhões de dólares depois, arrecadados de 1988 a 2019 (projetado), alavancados por 1,5 bilhão de dólares dos bolsos dos rotarianos, esperamos ver o fim da batalha. Vale mencionar que esse valor dos doadores do Rotary representa a maior contribuição de uma instituição privada na história do planeta em um esforço de saúde pública.

O surgimento de três casos na Nigéria, na região em torno do Lago Chad, notificados até 14 de setembro de 2016, evidencia o quão insidiosa é a doença. Depois de dois anos sem nenhuma ocorrência, a caminho do terceiro e último ano para receber a certificação de livre da pólio, esses três casos reinseriram a Nigéria na lista de países endêmicos, ao lado do Paquistão e do Afeganistão.

Um desapontamento para os batalhadores pela erradicação da pólio, o Rotary inclusive, mas um alerta de que as atividades de monitoramento e contínua vacinação são fundamentais para conter a doença nos atuais limites geográficos. Daí os sete bilhões de dólares: para evitar a volta da pólio.

Participo agora do Comitê Internacional Polio Plus (IPPC), o braço decisório da Fundação no combate à doença. Na última reunião, em setembro, alguns dados surpreendentes foram apresentados: a vacina representa apenas 3% da verba investida. Custos operacionais, incluindo logística, levam 47% dos gastos. A assistência técnica responde por 20% das despesas, a mobilização social por 18%, o monitoramento por 9% e a pesquisa por 3%, à semelhança da vacina.

Foi o monitoramento que permitiu detectar vírus da pólio em amostras coletadas em março de 2014 no esgoto do Aeroporto Internacional de Viracopos, em Campinas, SP. Certamente havia sido importado por viajantes que transitaram pelo local. Este é o desafio: erradicar uma doença transmissível em um mundo globalizado.

Desde o início dos programas de imunização, 130 vacinadores foram assassinados. Em homenagem a esses heroicos combatentes, além de pequena contribuição às suas famílias, adequada ao padrão de vida das respectivas comunidades, serão concedidas bolsas de estudo para estudantes de saúde nos países endêmicos.

Como dizia o antigo comentarista de futebol, “o jogo só acaba quando termina”. Nosso compromisso é acabar com a pólio. E não abandonaremos o jogo no fim.

* O autor é Mário César de Camargo, curador 2015-19 da Fundação Rotária.

Para fazer comentários e sugestões sobre esta coluna, escreva para mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

(Mensagem de novembro de 2016)

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