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Feliz 2020! Ou 2055?

jan 2, 2020

“O problema do mundo de hoje é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, e os estúpidos estão cheios de certezas.” – Charles Bukowski, escritor norte-americano

Carrego comigo toneladas de dúvidas, mesmo assim ousaria especular sobre o que será o Rotary no seu 150º aniversário, daqui a 35 anos. Sobre o seu bicentenário, em 2105, já seria arriscadíssimo qualquer especulação. Diante do aquecimento global, mal sabemos se as cidades costeiras existirão, que dirá o Rotary. De qualquer forma, muita gente arguta já especulou sobre o futuro, fracassando miseravelmente na empreitada – e, mesmo assim, sua reputação sobreviveu intacta.

Até o aclamado Bill Gates, nosso parceiro na luta contra a pólio, saiu-se com esta pérola: “Ninguém precisará de mais do que 640 KB de memória para um computador pessoal”. A avaliação de Ken Olsen, fundador da Digital Equipment Corporation, numa palestra da Sociedade Mundial do Futuro, em Boston, em 1977, foi pior: “Não há razão nenhuma para um indivíduo ter um computador em casa”.

O único detalhe é viver o sufi ciente para avaliar sua previsão, o que inexoravelmente aniquilaria quase todas as análises dos comentaristas econômicos dos tempos modernos, especialistas em previsões furadas. Com isso em mente, ouso traçar alguns cenários para o Rotary em 2055. Um feliz 2020 será fácil, pois isso requererá gestão. Já sobre 2055 dependeremos de imaginação, ainda que possamos utilizar alguns fundamentos ancorados na realidade de hoje.

1) Seremos mais asiáticos e africanos. Em 2008, os asiáticos eram 25% do Rotary, hoje são 31%, e tal participação continua a aumentar. Enquanto isso, a América Latina imobiliza-se em 8%, ao passo que os EUA perderam 75 mil rotarianos em dez anos. A África, por sua vez, obteve uma zona do Rotary, experimentando forte crescimento.

2) Seremos mais femininos. Hoje as mulheres respondem por 24% do quadro associativo, enquanto no Brasil representam 28% e, na América do Sul hispânica, 34%. O objetivo global é que 30% do quadro associativo seja constituído por mulheres, o que impulsionará a participação delas no Japão e Índia, duas potências do Rotary com pouco engajamento feminino.

3) Seremos mais diversos. À medida que o Rotary se expande, embora decrescendo nos EUA, aumenta a participação dos demais países nos quadros de liderança da instituição. A cultura decisória torna-se mais complexa, menos homogênea, mais rica e diversa. Por conta disso, tendências estão sendo analisadas em comitês estratégicos e a regionalização é uma delas. Os problemas enfrentados pelo Rotary nos países em declínio do quadro associativo são opostos aos daqueles em ascensão. Algum tipo de autonomia regional deverá ser desenvolvido para melhor abordar tais panoramas.

4) Seremos mais jovens. Nossa idade média supera os 55 anos. Assim como dormimos 84 anos até admitirmos o valor das mulheres, temos os jovens ao nosso lado desde 1968 e relutamos em facilitar sua admissão e participação, considerando-os mão de obra barata. Com a elevação do Rotaract e o contínuo foco nos programas dedicados à juventude, o Rotary aplainará o caminho para engajar os mais jovens, os quais, apesar de torcerem o nariz para alguns de nossos enfadonhos protocolos, compartilham com entusiasmo nossos valores e programas.

5) Seremos mais comunicadores. O Rotary cresceu num mundo de ONGs sem competição, sendo sempre o Cadillac das organizações. Ele nunca se preocupou com a concorrência e desdenhava da publicidade de seus feitos, numa postura tímida incompatível com o mundo atual. “O Rotary não é mais o mesmo”, ouço frequentemente em minhas andanças pelos distritos brasileiros. Ainda bem. Se o fôssemos, provavelmente teríamos perecido, engolidos por ONGs agressivas na promoção de suas causas.

Tenho pouca esperança de viver até 2055 para comprovar tudo isso. Mas, se a Providência Divina permitir, espero não ter que engolir essas previsões, afinal, não tenho o crédito de Bill Gates e Ken Olsen. Feliz 2020. E, quem sabe, feliz 2055!

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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