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Duas histórias de inovação

mar 9, 2020

“Inovação é o que distingue um líder de um seguidor.” – Steve Jobs

Reconhecidamente um grupo de líderes, muitos rotarianos relutam em aceitar o inevitável: o mundo de 1905 é muito diferente do mundo de 2020. Clubes ainda relutam em admitir mulheres, reuniões ainda insistem na formalidade e novos desafios são rechaçados por medo da mudança. Graças ao Bom Pai, o Rotary não é mais o mesmo. Se fosse, talvez nem mais existíssemos; nossa presença se dissolveria.

Como líderes, temos que ser os agentes da mudança, não os obstáculos a ela. Trago duas histórias que revelam os novos caminhos, uma referente à Fundação Rotária e outra ao quadro associativo.

 

Importante conquista

Começo recorrendo a uma frase citada pelo empreendedor norte-americano Scott Belsky: “Quando 99% das pessoas duvidam de uma ideia sua, ou você está totalmente errado ou prestes a fazer história”.

Foi assim quando alguns rotarianos acreditaram ser possível iniciar no Brasil um processo de doação de herança para a Fundação Rotária. Coordenei esse esforço nos últimos três anos, primeiro como curador, em seguida como diretor, até obtermos sucesso. Tratava-se de uma doação da herança de Sonia Fernandes – por sugestão do governador distrital 2006-07 Paulo Eduardo de Barros Fonseca – ao inventariante Fernando Sheldon, que ainda em vida convenceu a doadora sobre a idoneidade da Fundação Rotária. O feito resultará em uma doação milionária depois de um cuidadoso processo que envolveu Steve Routbourg, advogado chefe do Rotary; Eric Schmelling, primeiro executivo da Fundação Rotária; Marcelo Salesi, diretor de negócios da Cyrela; e Beatriz de Almeida Borges, do escritório Mattos Filho.

Foram três anos de negociações envolvendo direito brasileiro e a Fundação Rotária, com todas as limitações do inerente risco envolvendo imóveis. Mas, acima de tudo, havia a certeza de que, tendo êxito, essa operação abriria uma avenida de doações testamentárias para a Fundação Rotária no Brasil. Um veio inexplorado de captação de recursos, a primeira de muitas doações. Se não fosse a sugestão, anos atrás, de Paulo Eduardo a Fernando Sheldon, estes os verdadeiros agentes, os recursos teriam sido destinados a uma fundação para cães e gatos. Com todo o respeito e amor aos bichos, a Fundação Rotária saberá melhor utilizar esses recursos para fazer o bem no mundo.

 

Clube satélite

No nosso continente, o Rotary tem uma peculiaridade: os cônjuges estão quase sempre muito envolvidos. As associações de senhoras, famílias e cônjuges ou parceiros de rotarianos contam com recursos rotários inexplorados, a exemplo do que ocorria com a Fundação Rotária e as doações de testamento.

Conheço programas sustentados por cônjuges mais abrangentes do que os programas do próprio clube, o que por si só justificaria a condição daqueles como rotarianos. Mas esses parceiros às vezes não desejam se associar, ou, se o querem, são rejeitados pelo clube padrinho, cujos formato de reunião e cultura não interessam a uma nova audiência. O Rotary, contudo, não pode desprezar tais talento – e os novos formatos de clube foram estruturados para acomodar esses rotarianos em potencial. Clubes assim, apesar de não se enquadrarem nos formatos tradicionais, compartilham nossos ideais de servir com integridade, diversidade, companheirismo e liderança.

Lembro aqui uma frase do estrategista e filósofo chinês Sun Tzu: “Concentre-se nos pontos fortes, reconheça as fraquezas, agarre as oportunidades e proteja-se contra as ameaças”. O Rotary na América do Sul tem um ponto forte, os cônjuges, e é chegada a hora de agarrarmos essa oportunidade. A ameaça, a queda do quadro associativo em nossas Zonas 23 e 24, tem neles um antídoto. E eles podem estar dentro de casa, sendo pedra a ser lapidada, energia a ser liberada. Essa pode ser uma outra história de inovação bem-sucedida.

* O autor é Mário César de Camargo, diretor 2019-21 do Rotary International.

mario.cesar@graficabandeirantes.com.br

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