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ARTIGOS

Dois rotarianos

set 19, 2012

Dois amigos. Dois companheiros.

Eram dois rotarianos. Entraram para a entidade mais ou menos na mesma época. Rapidamente assimilaram a filosofia rotária e tornaram-se grandes amigos.

Participavam de todas as reuniões do clube, trabalhavam voluntariamente em todos os eventos e nos de outros clubes também. Visitavam os companheiros nas datas festivas assim como nas ocasiões difíceis.

Todos os consideravam grandes incentivadores da amizade, incomparáveis companheiros e excepcionais rotarianos. Prestavam relevantes serviços à comunidade e eram exemplos para os todos profissionais e chefes de famílias.

Quando um exerceu o cargo de diretor de protocolo, o outro exerceu o de tesoureiro. O que desempenhou o cargo de diretor de protocolo cumpriu-o com exemplar dedicação, tornando-se uma das pessoas mais importantes das reuniões. Era o primeiro a chegar ao local de reunião; cuidava da boa alimentação e dos mínimos detalhes para que a reunião transcorresse dentro da ritualística rotária. Preparava com antecedência a sua tarefa, relacionando, corretamente, datas comemorativas com informações e detalhes que apraziam a todos. Ao usar da palavra fazia-o com correção, bem postado, e, respeitosamente, enunciava, impecavelmente, o nome dos visitantes. Como responsável maior, para que a reunião transcorresse sem falhas, ficava à porta de entrada para receber, dignamente a todos e anotar as presenças de visitantes e convidados. No transcorrer da reunião estava sempre à disposição do presidente.

O outro, por sua vez, quando tesoureiro, responsável pelos recursos financeiros do clube, era gentil e alegre, afável e sorridente, compreensível das dificuldades de cada um e procurava, agindo assim, administrar as finanças do clube num patamar admissível que lhe permitia cumprir com o orçamento devidamente aprovado em assembléia do clube.

Curiosamente, quando chegou a vez de um deles ser presidente do clube, o outro foi o secretário. E logo na gestão seguinte houve a inversão dos cargos. Ambos dirigiram o clube com eficiência e sensibilidade. Foram incentivadores do Intercâmbio de Jovens Estudantes, hospedando e ajudando a transformar o sonho de vários adolescentes em realidade. Cada um, por sua vez, fazia questão de reverenciar a figura do companheiro presidente por ser o líder do clube naquela gestão.

Tiveram gestões parecidas, pois, procuraram conhecer cada um dos companheiros e sua família, propagando para os outros, suas qualidades e anseios. Com sabedoria conduziram o clube a realizar grandes eventos em benefício da comunidade, porquanto, sabiam que apenas uma vez teriam oportunidade de passar por tão honrosa empreitada e marcar sua trajetória em Rotary.

Quando secretários tornaram-se os guardiões da vida do clube, mantendo os arquivos atualizados e mantendo o Manual de Procedimento à disposição dos associados para as consultas necessárias. Destacavam a correspondência recebida, as recuperações dos companheiros e comunicavam mensalmente à governadoria a freqüência do clube. Antecipadamente liam a Carta Mensal da governadoria e a revista Brasil Rotário, entregando pessoalmente aos companheiros e recomendando este ou aquele arquivo. Orientavam, no entanto, que após a leitura compartilhassem com os amigos e a família o seu conteúdo.

Certo dia, após o encerramento de mais uma reunião semanal estavam os dois amigos conversando tranquilamente sobre as coisas rotárias:

– O Rotary é muito bom – falava um deles. O Rotary dá a oportunidade de compartilhar amizades e dá chance para que cada cidadão possa trabalhar para um mundo melhor.

– É isso mesmo, companheiro – respondeu o outro. Nós trabalhamos voluntariamente e somos exemplo para a comunidade. Penso que todos os profissionais do mundo deveriam ser rotarianos, pois, servindo ao próximo com vontade e determinação, não damos oportunidade à melancolia e ao tédio.

E foram divagando sobre as coisas boas que os rotarianos compartilhavam: a influência decisiva das comissões na união dos associados; a ajuda dos rotarianos à comunidade local; a divulgação da filosofia rotária de servir antes de pensar em si, aumentando, dessa maneira, a credibilidade do Rotary; a valorização dos meses determinados pelo Rotary como incentivo nos demais programas; a enorme importância da Fundação Rotária nas questões mundiais e a repercussão destas ações pela revista rotária que publica os feitos rotarianos.

Conversaram por tanto tempo que nem notaram o adiantado das horas, até que um deles falou:

– Será que lá no céu tem Rotary também?

– Sei lá! Porque você está perguntando isso? – indagou o outro.
– Não é por nada não. É que, falando tanto em Rotary, do tanto que Rotary é bom, lembrei-me que já não somos tão jovens assim. Em breve seremos um punhado de pó espalhados na eternidade do nada. Então, me veio esse pensamento. E cá entre nós, deve ser muito ruim chegar lá em cima e descobrir que não tem Rotary.
– Mas como você pode ter certeza que vai para o céu? Pode ser que você embarque para o inferno…
– Bom… Pelo menos eu tento fazer o melhor para ajudar outras pessoas, pratico serviço voluntário. Agora, para onde eu vou… Só Deus é quem sabe!
E desafiou: – Vamos combinar uma coisa! Aquele que morrer primeiro volta para contar para o outro se lá em cima tem Rotary ou não!
– Aceito! E você pode ter certeza de uma coisa: caso eu morra primeiro volto para cutucar seu pé!

Despediram-se e foram, mais uma vez, embora, cada um para seu respectivo lar, felizes com o dever cumprido e com a consciência tranquila, o que é peculiar daqueles que dão de si sem pensar em si.

Passaram-se alguns meses e infelizmente, por um processo normal da vida, um deles morreu. O outro sentiu muito a morte do amigo e companheiro, pois estavam sempre juntos em todos os eventos rotários que aconteciam pela cidade.

Por um bom tempo manteve-se recolhido em sua casa sem muito ânimo para atender aos vários convites que recebia dos outros amigos e companheiros para frequentar as reuniões.

Uma noite, porém, quando deitou, sentiu alguma coisa puxando o seu pé. Acendeu a luz e quase enfartou. À sua frente estava ele. Seu companheiro e amigo inseparável.

– Vai embora coisa-ruim! Suma da minha frente! Volta de onde você veio demônio! – gritou, vendo o amigo todo de branco sorrindo diante dele.

– Calma companheiro! Não tenhas receio! Eu só vim aqui para te dar duas notícias!
– Calma uma pitomba! Você já morreu e eu não quero papo com defunto! Vai, vai… Some… Some da minha frente!
– Você não se lembra do trato que nós fizemos? Quem morresse primeiro voltaria para contar se lá no céu tem Rotary ou não?
– Tudo bem! – disse mais calmo, o amigo. Você disse que voltou para me dar duas notícias! Quais são? – perguntou.
– É verdade! São duas notícias; uma boa e outra ruim! Qual você quer ouvir primeiro?
– Me dê, então, a notícia boa primeiro. Depois a ruim!
– Muito bem! A boa é que lá no céu também tem Rotary. Aliás, há só um Rotary que é presidido por Paul Harris e todos convivem harmoniosamente, conversando bastante sobre as coisas do céu e do Rotary.
– Verdade meu amigo? Que bom! E a notícia ruim qual é?
– Bem… Dependendo do ponto de vista não é notícia ruim… É que a próxima reunião será festiva de posse e você será um dos empossados.

Ilustração: Stock.XCHNG

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