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mai 5, 2020

Há cinco anos, fomos ao Museu Casa Guimarães Rosa, no município mineiro de Cordisburgo, e lá encontramos adolescentes roseanos que sabem de cor trechos de Grande sertão: veredas. Em voz alta, eles dão vida e emprestam alma a um dos maiores livros da literatura brasileira, declamando, por exemplo: “O diabo na rua, no meio do redemunho” ou “O real não está no início nem no fim, ele se mostra pra gente é no meio da travessia”.

O Rotary se posiciona no meio de uma travessia, porque se acha sempre no ponto de encontro entre o homem e as mudanças sociais, econômicas e espirituais.

Quando a Covid-19 chegou, o mundo se sentiu no meio de um redemoinho: parar empresas, isolar-se dentro de casa, cancelar reuniões de clubes e Conferências Distritais etc. O sentimento de solidariedade aflorou primeiro e o mundo começou a descobrir que o vírus é um desafio que mudará para sempre nossas vidas. Pessoas isoladas recorreram a aplicativos e tocaram suas atividades profissionais e no Rotary. Ainda hoje, rotarianos da área da saúde corporificam o Dar de Si Antes de Pensar em Si para salvar todas as vidas possíveis. Com a Covid-19, despertou a consciência de que a saúde é parte indissociável da vida, e governos e instituições deram prioridade ao sistema de saúde. Esse será mais um legado deste momento que atravessamos.

A Fundação Rotária fez uma reunião extraordinária e os curadores tiveram o discernimento de mudar regras dos programas para atender o desejo de servir imediatamente, sem burocracias, com a velocidade exigida para enfrentar o grave momento. A Fundação Rotária:

  • Isentou do requisito de 30% de financiamento do exterior os Subsídios Globais relacionados à Covid-19;
  • Adicionou projetos relacionados à Covid-19 à lista de atividades elegíveis aos Subsídios para Assistência em Casos de Desastres, com os distritos podendo solicitar até 25 mil dólares, dependendo da disponibilidade de fundos, sendo que as unidades distritais podem destinar Fundo Distrital de Utilização Controlada para uso em atividades contra a Covid-19;
  • Incentivou os distritos a prepararem novos pedidos de Subsídios Distritais para 2020-21, destinando fundos para atividades contra a Covid-19, e permitiu, como exceção única, que despesas registradas desde 15 de março sejam reembolsadas por meio dos Subsídios Distritais 2020-21, enquanto houver fundos;
  • Transferiu, inicialmente, 1 milhão de dólares do Fundo Mundial para o Fundo para Assistência em Casos de Desastres e, dez dias depois, mais 2 milhões de dólares, tendo sido aprovados subsídios para mais de 20 distritos da América do Sul que primeiro submeteram a solicitação, totalizando o envio imediato de mais de 500 mil dólares.

Constatou-se que a infraestrutura para a erradicação da pólio está sendo usada para proteger os mais vulneráveis contra a Covid-19, especialmente nos países endêmicos, como a Nigéria, o Afeganistão e o Paquistão.

Com a Covid-19, o Rotary se tornou mais conectado. Mesmo virtualmente, as pessoas estarão mais próximas, novas classificações hão de surgir, o custo das reuniões cairá e o quadro associativo crescerá devido à visível participação do Rotary nas comunidades. A solidariedade conectou pessoas que, muito bem, se identificaram melhor como seres humanos e tiveram mais tempo para a família: isso resultará em um legado de crescimento da importância dos valores, assunto tão caro ao Rotary.

A Covid-19 foi um redemoinho em nossas vidas. Aprendemos que o mais importante não foi o início ou o fim e, sim, o meio da travessia. O detalhe é que, para a concretização do homem, toda organização deve atravessar crises e efetuar mudanças, como requisito para torná-la ainda mais humana.

Qual é o resultado do novo coronavírus? Um homem novo, um Rotary melhor.

* O autor é Hipólito Ferreira, curador 2019-23 da Fundação Rotária.

hipolito@paineira.eng.br

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